Heterónimo, Fernando Pessoa

Data 01/10/2014 16:40:22 | Tópico: Poemas -> Introspecção

Sou uma das sete artes
usada para fins estéticos,
Retrato a vida em partes
só com recursos genéticos,
Fingir? Poetas patéticos,
desminto Fernando Pessoa,
Eu sinto os dons poéticos
não sinto o que apregoa,
Lava-me, não me ensaboa
pois recriei a história,
Cem anos depois, Lisboa
viu-me como a dedicatória
em homenagem à sua memória
com um toque de verdade,
Eu sigo a trajectória
que me trará estabilidade,
E apesar de tenra idade
de mim eu já dei tanto,
Palavras são elasticidade
transformam-me em amianto,
Rejeitam-me como entretanto
copiam-me como um ditado,
E enquanto eu me adianto
ninguém está mais adiantado,
Fui o rascunho desenhado
apenas com um pau de giz,
Se um dia me virem afastado
foi porque eu assim o quis,
Sabendo quantas satisfiz
em penetrações sem glande,
Com o dicionário Luís
e sem a palavra abrande,
O meu heterónimo expande
mostrando tamanho sem fim,
Espantando por ser grande
e caber dentro de mim.

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