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 A ROSA E O PENHORData 06/10/2014 01:07:46 | Tópico: Poemas
 
 |  | CARLOS ALEXANDRE NASCIMENTO A ROSA
 E O
 PENHOR
 CAPÍTULOS
 PREFÁCIO
 O QUARTO ESCURO
 NOS TRILHOS DO ABANDO
 O FAROL
 O PENHOR
 NO ENGENHO DO PERDÃO
 O ENCONTRO
 RESTAURADO PELO AMOR
 A ROSA E O PENHOR
 PREFÁCIO
 No contexto de um mundo hodierno, o palco da vida
 apresenta sua versão dançante na procura de um amor em meio
 a desertos de solidão. E no cenário de um quarto escuro; uma
 meiga menina de musgos olhos profundos, entoa sua melodia no
 assoalho de um teatro, a falar de seu amor em um mundo de
 flores e faróis de varias cores, no revelar de um penhor.
 Envolva-se neste romance e descubra no final de uma
 estação; um vagão descarrilado dos trilhos nas saudades de um
 coração ferido, em encontros de um passado esquecido, no final
 de um grande amor a buscar.
 O QUARTO ESCURO
 Ao abrir as cortinas no teatro, do palco da vida, à vírgula
 pleiteia suposta interrogação das mãos frias guardadas na prisão.
 Sua mente perplexa pondera a meditar; sobre o quarto escuro
 escondido no lar. Nas entrelinhas da escrita sobre a pauta da
 vida, a pena se põe a deslizar, rompendo a vírgula que fica sobre
 relutante anseio de expressão, expondo um afogueado
 sentimento sublime, das angustias que sangra de um coração.
 De paixão seus olhos se encheram, quando a viu
 desabrochar; naquele jardim tão florido de pássaros a cantarolar.
 Sob estagnadas pupilas em negros tons de prisões na mente, do
 obscuro quarto fechado vigia as pálpebras o bailar da alegria em
 meio ao frio noturno da solidão.
 No estalar das labaredas ardentes ante o lume do fogo
 acolhedor, seu vulto ela o percebeu. Em um pequeno relance de
 olhares de um clímax encantador; sobre uma sintonia perfeita
 suas almas ardiam de amor.
 Aquela invasão inesperada jamais sentida em seu ser, de
 temor em flagelos voltou, para sua mente em amarras e no
 oculto quarto fechado suas lágrimas ele derramou.
 - Se achegue, o aceno dizia; - Venha se aquentar, em
 envolventes abraços amigos, ao redor da fogueira a dançar!
 - Sou tão bruto de rústico linguajar, áspero em sentimento
 eloquente, na sua ciranda dançante de clássicos sons para
 amantes, não sei como elucidar.
 - Não temas, apenas venha, ainda que em pedregulhos teu
 verbo te sintas em diamantes lapidado serás. Quando em
 prelúdio teu ser derramar sobre nossa ciranda dançante, das
 mordaças suas ânsias liberto serás.
 No compasso de sua mente a pensar, sua dança ele trança
 no tear, como a lança de um tecelão a chamar sua atenção.
 Então a aranha tece sua teia, em palavras a se prenderem no ar,
 armando-lhe uma rede aos seus pés, para o quarto escuro a
 levar.
 - Quem és tu ó gentil melodia que em êxtase baila no ar,
 trazendo suaves sintonias que de encanto me deixo levar?
 - Sou relâmpago de lanças mordazes, inflamados dardos na
 mente. Ora sou fogo que o gelo consome, ora voraz geleira
 ilhada, consumida no fogo de tuas palavras, que desmancha em
 águas amargas de um mar vazio perdido em solidão.
 Nos trilhos do abandono
 No bailar das estrelas dançantes ao redor da fogueira que
 ardia, dos seus braços ela se perdeu, envolta pela melodia em
 serena noite fria de vozes a cantarolar. E em meio a jardins tão
 floridos varias rosas ela o viu apanhar, em vermelhas pétalas
 macias aveludadas caídas ao chão, marcando o caminho com
 flores mostrando a direção.
 E sobre um jogo de amarelinhas no compasso do cirandar;
 seus passos vacilam no prosseguir do céu ao inferno pro quarto
 escuro ir. Em seu esconderijo secreto descoberto ele estava pra
 ser, e de dentro do seu baú escondido pronto pra uma peça a
 pregar; seu boneco de molas saltita aos sorrisos de sustos a dar.
 -Espere não fuja de novo, disse ela retendo-lhe a mão, no
 saltar de seu mundo obscuro para fora de seu vagão. No apitar
 do trem que partia de sua mente a recordar; - sou criança sou
 travesso, do apito tenho medo, mamãe está a me chamar, se ela
 me pega aqui não poderemos mais brincar.
 No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar,
 melodia fúnebre dos sinos de sua mãe a enterrar. Caiu por entre
 os vagões quando começou a procurar; aquela criança traquina,
 que nos trilhos se pôs a chorar.
 -Papai era o maquinista, gritou ele em sua fúria a lembrar,
 do triste episodio terrível de nodoas no passado a deixar, vendo
 a maquina apitando ao longe da estação abandonado a ficar.
 Menino de rua cresceu até no orfanato chegar, e pro quarto
 escuro correu pra um passado poder enterrar.
 No ajuntar dos seus papiros ao findar o expediente do
 dia, pra casa ela se recolheu. Aprofundando em suas questões de
 um exaustivo quadro em conflitos, deliberando uma maneira em
 sua arte de analisar; àquela disforia profunda, para do quarto
 escuro o tirar.
 Com os olhos carregados de sono, já em alta madrugada;
 no vacilar um pequeno cochilo e um trem a apitar. E dentro da
 locomotiva ela estava a viajar, quando de susto acordou sem
 sono de tanto pensar e incomodada com tamanha questão ao
 Pai das luzes foi rogar;
 - Senhor, vem iluminar meus pensamentos, em minha alma
 há um tão grande tormento de um mar revolto a banir-me em
 solidão. O nevoeiro ofusca o meu barco, mas tu senhor és um
 farol iluminado a mostrar-me em tua bonança a direção de um
 porto em segurança.
 - Em meio a conflitos de indiferença, do lar me distanciei e
 em grande pranto na alma o seio materno eu deixei, na
 esperança de um dia poder reconciliar e os braços paternos
 novamente abraçar.
 - E os trilhos me mostram o caminho de um menino sem
 destino pedido em uma estação a mostrar-me a direção. Ó meu
 senhor me dê forças para o lar poder chegar e aqueles trêmulos
 braços abraçar, porque eles estiveram sempre abertos a me
 esperar.
 Então, de sono ela adormeceu aguardando um novo
 amanhecer pro trem no passado voltar e em lágrimas de perdão
 seus pais abraçar. Nos trilhos da vida ela passou a valorizar a
 melhor coisa do mundo que é o aconchego de um lar, de quem
 tem no final de uma estação um abraço amigo sempre pronto a
 esperar.
 O Farol
 Dentro do covil de lobos como ovelha foi jogado, bem no
 fundo da caverna de um frio orfanato. Já no meio da matilha de
 cordeiro vira lobo e dentro da rebelião ele traça seu escopo.
 Sua fuga alucinante termina em um mirante, bem no alto
 do velho farol, preso como castigo nos fundos do covil perdido,
 sobre uivos de uma alta temporada em duas luas cheias no
 quebrar da enseada, de um mar vazio perdido em solidão.
 Da vidraça encantada no topo do arranha céu era seu
 segundo dia. E ao longe do horizonte seus olhos se perdiam no
 silêncio do farol, de sua mente em lembranças no passar de suas
 semanas. E no findar daquela cena, surpreendido foi por ela que
 de longe o contemplava, perdido em seus conflitos. E ao vê-la
 com seus livros meio que atordoada pelo silêncio vigente de sua
 fria recordação; ele rompe em melodia sua voz a entoar em
 grande sintonia sua musica a declarar;
 - No horizonte por traz de teus olhos o mar se esconde.
 Tímido mar em ondas que retraem barulhentas no bater de teus
 contornos molhados. O azul do céu em elo ao tímido azul do mar
 mostra o branco das ondas no aproximar de teu sorriso alvejante
 para lhe tentar ofuscar. Porem teus lábios irradia a luz da vida
 que ele jamais vai expressar.
 - E no profundo alto mar então, uma ilha ele revela;
 solitária em rochas profundas de um mar vazio perdido em
 solidão. Ó mar tão tímido e voraz, de ondas que vem e que vai,
 traga estes contornos molhados pra minhas mãos deslizar, em
 aveludada pele macia e assim minha solidão apagar. Então
 saberei entender; que tua beleza também tem seu lugar, quando
 meus olhos assim contemplarem estes contornos molhados que
 trazes pra minha alma amar. Olhando tua beleza escondida em
 tua úmida areia fria, em contraste com o horizonte que se
 esconde, pelos contornos que trazes ó mar.
 Após a declaração sua pele incendeia-se como centelha e
 em sussurros de emoção, explodindo feito um vulcão em grande
 erupção, ela faz a sua declaração;
 - Vejo que és poeta, pois de amor me deixo levar pelas tuas
 lindas melodias, que encantam meus olhos a chorar.
 - Os olhos, disse ele; é a candeia da alma que ardem pela
 emoção do desejo e satisfação do olhar. Trazendo angustias no
 cerne, pelas lágrimas que choram por não querer rolar. Assim é o
 âmago da minha alma poeta, que suspira por querer ver apagar,
 suas lágrimas que caem como orvalho do campo; em minhas
 pétalas para as amparar.
 - Do farol sempre lhe via quando vinhas se banhar, neste
 mar de solidão, a me deixar sempre a pensar; sobre as rosas que
 apanhavas em pétalas a jogar, marcando a areia molhada, no
 farol sempre a chorar.
 - Quem és tu ó guardião vigilante, que está sempre a olhar,
 cujo vulto por traz da janela sempre vejo observar?
 - Sou uma torre que vigia o vai e vem da alegria. Pássaro
 ferido, faminto sem poder voar, nas asas da liberdade e um
 mistério revelar;
 O Penhor
 - No alto do farol, uma escrita na porta jazia, vermelha
 feito sangue a selar a minha sorte sobre uma revelação na
 seguinte expressão;
 - “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas
 pisaduras fomos sarados.”
 - Por um instante em minha vida, o som do sino eu escutei,
 de um passado não muito distante e então investiguei, bem no
 íntimo do meu ser; que metal meu coração seria a tinir triste
 melodia, perdida no tempo e no vento até não mais se ouvir; se
 o perdão não liberasse, ao maquinista que tocava o sino da
 despedida no final da estação a partir.
 No clarear da lua cheia, iluminando a velha aldeia no alto do
 farol se ouvia, uma doce melodia no badalar do sino que ardia,
 em belos uivos de perdão;
 - Ó doador da vida, que sara minhas feridas; ao soar do meu
 perdão ao maquinista distante, leve esta canção em teus quatro
 ventos a buscar; a locomotiva errante, até ao fim da estação
 chegar.
 No fechar de suas cortinas, da janela que ele via, ela voltalhe
 a atenção, fitando-lhe bem nos olhos a segurar-lhe pelas
 mãos. Em suas meigas palavras num sorriso encantador, outra
 janela ela abre, em sua cidade de pedras cheio de arranha-céu e
 assustado com a imagem ele suspira para o céu.
 - O que vê? Disse ela em sua análise, correndo a escrever e
 pintar aquela imagem. - Vejo varias torres iluminadas são faróis
 na enseada em acenos com as mãos, de um mundo em conflitos,
 pensamentos tão perdidos, muitas vidas em prisões. São casulos
 sem escritas, são faróis sem melodias, belos sinos sem badalos
 de um trem sem estação.
 No pintar de sua tela, misturadas cores amarelas, ela traça
 o seu rumo em meio a flores exóticas a mudar a sua sorte, sobre
 um ponto de fuga; vermelha rosa profunda, em essências
 exalando no ar, a mostrar-lhe o caminho, para do quarto escuro
 o tirar.
 - Esta rosa é o meu penhor, disse ela a lhe abraçar. Cuida
 dela com desvelo pois vou me ausentar, passarei por entre as
 flores deste jardim de amores. Se a rosa vermelha murchar e o
 perfume não mais sentir; me procure nos faróis pois lá vai me
 encontrar, estarei em uma jornada, meus pais vou abraçar. E a
 rosa que lhe dei deste ramo que apanhei em nosso jardim de
 amores voltará a perfumar.
 No passar das luas cheias, seus olhos de saudades se
 desfizeram, era uma nova estação de um farol na escuridão,sem
 um terceiro dia com sua rosa perfumada no regar de seu penhor,
 com suas lágrimas de amor. Suas pétalas macias com o tempo
 foram murchando e no enxugar de grande pranto, ao plantar seu
 lindo ramo em seu jardim de amores; ele colhe varias flores.
 Então, por entre um mundo de torres, de faróis de varias
 cores, ele sai a procurar; com sua rosa vermelha aveludada e
 macia de seu lindo jardim florido, seu grande amor a buscar pra
 seu penhor entregar.
 No Engenho do Perdão
 Como o vento que toca o moinho, a mudar o curso das
 águas, em encanto sua mente é levada, no engenho que ela
 girava.
 O suco da cana extraia, camponesa de olhos profundos, da
 cor do fundo do lago, semelhante ao caldo tirado. No degustar
 da garapa a beber, nos seus olhos tão musgos mirar, das
 moléstias do sol que ameniza, ao ouvir sua voz a cantar;
 - A vida é como o engenho de moinho, que amassa o grão
 no seio da terra mãe tirado. E que depois de amassada farinha,
 retribui na forma de pão, o alimento pra sua jornada. Assim sou
 eu nesse engenho da vida, feito uma caiana amassada, que Três
 vezes passo moendo, retirando o sustento de casa. No ranger do
 moinho que gira, a farinha na roda de pedra; mamãezinha
 socorre depressa, sua filhinha presa na pedra. Sem as pernas
 sobrevivi, com a força nos braços girar, este engenho de vida que
 bebes, para tua jornada animar.
 - Ó doce caldo amargo, deste engenho de cana a beber,
 nesta torre perdi a esperança pelas minhas tristes lembranças,
 de um passado que não consigo esquecer.
 - Quem és tu viandante amigo, que na torre não quer mais
 entrar, que destino tu trazes no peito, desta vida de moinho a
 girar?
 - Sou peregrino preso na roda, um bagaço amassado de
 cana, sou amargo em fel de absinto, sem sandálias perdidas nos
 trilhos. Mas bebendo este doce de engenho, dos teus lábios
 solfejos que emana, conquistastes essa rosa vermelha; o penhor
 da minha alma que canta.
 - Tu és o jardineiro das flores, esta caixa tenho que lhe
 entregar, a pedido de uma amiga, que ficou a me observar. Ela
 disse que alguém me daria uma rosa vermelha como penhor,
 fruto de sua maior riqueza, em amarras de um grande amor. Este
 então seria o sinal para também poder lhe dizer; que ela ainda o
 veria, sobre os trilhos da vida a vencer.
 De alegria um sorriso ele deu, no abrir de sua caixa a pular,
 um boneco de molas jogando; mil confetes perdidos no ar. Bem
 no fundo um poema havia, rabiscado em um papel de pão, que
 deixaram seus olhos em lágrimas, ao lembrar-se daquela
 estação:
 - Camponesa sem pernas que andava, com os braços
 chamado perdão, no engenho da vida cresceu, aprendendo a sua
 canção. Assim devemos nos perdoar, dos fantasmas que nos
 permeiam no ar, de nossas culpas que acreditamos e que nos
 fazem aleijados ficar.
 Então ele compreendeu, que aquele seria seu terceiro dia
 de cura sob uma recuperação, ao ver seus fantasmas partir, por
 um simples papel de pão.
 No escuro da noite sem lua, ao profundo sono da
 madrugada, em crescente luar uma espera, lua nova brilha na
 enseada. Na estação muitas flores havia, o jardim que mudou de
 lugar, aguardando o apito do trem, lua cheia pra rosa voltar
 O ENCONTRO
 Lágrimas que caem ao chão, sem as flores para amparar,
 pelo tempo que foi se passando, a fazer suas pétalas murchar.
 Seu olhar no cume da montanha, a fumaça não quer se mostrar,
 do apito de um trem que não chega, sem os trilhos a descarrilar.
 De paixão sucumbiu o luar, em eclipse com o sol a brilhar,
 tendo como platéia as estrelas, de uma noite que não quer mais
 passar. Não há mais flores em seu jardim de amores, nem mais
 bonecos de molas a pular, de um vagão que não sai de sua
 mente, sem saber quando ela vai regressar.
 Forjado no calor das emoções, incessante bigorna a sofrer,
 retinindo nos trilhos da aldeia, férrea linha locomotiva a trazer.
 De jardineiro a ferreiro se fez, derretendo o ferro a moldar,
 no suor escorrendo do rosto, trilhos novos pro trem desfilar.
 - Minhas rosas enferrujaram, solidão quer de novo
 envolver, no calor que suporto em minha alma, das angustias do
 quarto escuro a temer.
 - Negras nuvens que cobrem o luar, desta aldeia sobre todo
 o meu ser, que destino terá a minha alma, como posso sem ela
 sobreviver?
 - No vazio ilhado que invade, singular sentimento no
 coração, não há flores em minha jornada, somente pétalas de
 separação.
 - Que os céus goteje esperança, em meus ombros
 queimados de dor, pelos trilhos pesados que levo, ao encontro
 de tamanho amor.
 No caminho de um sol escaldante, de conflitos no deserto
 da vida, sucumbe a razão dos amantes, a provar a paixão
 envolvida. Já prostrado pelo cansaço, no tombar de uma
 imensidão, vulnerável desfalece em silêncio, sobre a sombra de
 um velho vagão.
 - Quem és tu que o deserto atravessa, em coragem e
 determinação, que destino tu trazes na alma, nestes trilhos
 envolto em solidão? Sua voz ecoava ao fundo, toda tremula ante
 a situação, ao olhar que o menino dos trilhos; era o filho deixado
 na estação.
 - Fui forjado nos trilhos da vida, sob a sina de um triste
 vagão, aprendendo em moinhos de trigo, melodia a falar de
 perdão. Em meus ombros feridos carrego, um só elo pro vagão
 andar, pelos trilhos rompidos na alma, de um amor descarrilado
 a buscar.
 - Sua voz soa familiar, no apitar do apito do trem, melodia
 suave aos ouvidos, em lembranças de um passado de alem.
 Cicatrizes carrego comigo, de abandono de muito castigo,
 orfanatos de solidão, em um quarto escuro escondido, no vazio
 de um vagão.
 - Quem és tu ermitão do deserto, qual o conto trazes no
 coração, o que fazes no vácuo perdido, na carcaça deste velho
 vagão?
 - Sou a dor da saudade que bate, cada dia dentro deste
 vagão, consumindo a minha alma em angustias, estilhaços de
 separação.
 - Ao redor de uma mesa ceava, a família no repartir do pão,
 de mãos dadas agradecíamos com o coração cheio de gratidão.
 Porem sobre aquela aldeia, pairava uma nuvem sombria,
 agressiva epidemia avassaladora a dizimar. Ceifando a vida no
 campo, derradeiros rastros em pranto, de lágrimas a contaminar.
 - A fome foi chamada na terra, a morte passou a reinar,
 cada casa, cada família, triste peste a alastrar. O luto estampado
 no rosto, de um olhar tão perdido em desgosto, ao sentir o
 cheiro nas portas, da doença minha casa entrar.
 - Nas perjuras de amor que fizemos, minha amada e eu a
 chorar, com o fruto do amor protegendo pro menino não
 contaminar.
 - A aldeia obrigava a embarcar, no apito do trem a levar,
 todo aquele que a praga pegava, pro deserto errante vagar.
 Quão dura foi a decisão, pro filhinho não se contagiar, minha
 amada e eu decidimos, pra criança então sobreviver; na estação
 com o boneco de molas, brincaríamos de pique esconder.
 - Mas os trilhos marcaram o destino, no ultimo apito do
 trem, assustado o menino gritou, coração de mãe desesperou,
 ao encontro do choro enxugar...
 Um profundo suspiro na alma, interrompe o desfecho de
 dor, no silêncio do vácuo perdido, pai e filho no quarto escuro
 escondido, entre lágrimas perdidas nos trilhos, das lembranças
 de um grande amor.
 Restaurado Pelo Amor
 No frio da madrugada, no silêncio do deserto de dores, ao
 lume da fogueira aquentava, solitários de uma lua cheia, a
 lembrar-se da velha aldeia.
 Com os olhos perdidos no tempo, de vidas jogadas ao
 vento, no assobiar de uma canção; ao redor do calor entoavam
 melodia vinda do coração;
 - O amor que vence barreiras, em qualquer situação, ele
 cura profundas feridas de grande separação. De mãos dadas ao
 redor do fogo cantamos, sinfonia a falar de perdão. Assim
 vencemos o frio noturno, no aquentar dessa triste canção.
 De repente um vulto passou, ao redor das brasas que
 ardiam, era sua rosa querida, no bailar de grande alegria, com
 seu sorriso solto no ar. Em um relance de olhar de um clímax
 encantador, sobre uma sintonia perfeita; sua alma queimava de
 amor.
 Porem ela não o percebeu, quando ele começou acenar,
 com seus olhos perdidos no tempo, não podia mais enxergar. A
 praga roubou-lhe a visão, quando ela foi se encontrar, com seus
 pais no deserto perdido, pra poder os abraçar.
 Então uma rosa de ferro mostrou, forjada de uma bigorna a
 sofrer, no calor das emoções a fazer, um penhor pra lembrar seu
 amor. - Este penhor que lhe dou não tem o cheiro das rosas, nem
 o perfume da flor em amarras de grande amor, mas resiste ao
 tempo, no calor e no frio relento, tempestades no deserto em
 ventos de dunas dos meus sentimentos, enlaces de meu grande
 amor. Porem pode enferrujar, se guarita não mais encontrar,
 quando a chuva serôdia cair, em minha alma no deserto a partir.
 Quando ela a rosa sentiu, suas lágrimas nas pétalas caiu,
 exalando seu perfume no ar, melodia dos seus lábios a cantar,
 sua canção a falar de amor de um lindo jardim ao luar;
 - No penhor do meu amor da rosa que lhe dei; fizeste um
 jardim de flores, em tempos de amores. E em meio a moinhos da
 vida, no verde do engenho a girar; saístes do quarto escuro, pra
 meiga camponesa ajudar, bebendo do doce do engenho até meu
 penhor lhe entregar.
 - De sua maior riqueza, dividistes tamanha beleza, na
 grandeza de teu coração. Por isso deves voltar, à aldeia e
 anunciar, que de teu grande amor em poder, exalastes virtudes a
 envolver, proteção para todo o teu ser, até imune da praga ficar.
 Foi então que ele sentiu, em seu corpo um forte calor, ao
 lembrar-se que o tempo passou deste que seus pés ali ele pisou,
 em uma noite sem lua, no frio do deserto a surrar e agora era já
 lua cheia, sem ele se contaminar.
 No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar,
 melodia alegre dos sinos, de um coração feliz a embarcar.
 Ramalhete de flores colhia, de seu jardim na estação a entoar,
 sua canção a falar de amor, de um povo distante a buscar;
 doentes do deserto errantes, excluídos em tamanha dor, que
 aguardavam a chegada da cura, através de um gesto de amor.
 E pra cada vida que vinha, a ouvir sua triste canção, uma
 flor vermelha ele tinha, em pétalas exalando no ar, o perfume de
 sua rosa amada, na partida do trem a apitar.
 A Rosa e o Penhor
 Ao fechar as cortinas do teatro, no palco da vida, após
 aquela apresentação, entra em cena o deslizar de duas rodas no
 assoalho do cenário a reter-lhes a atenção. Era uma meiga
 menina de musgos olhos profundos, da cor do fundo do lago a
 encerrar o espetáculo.
 Havia um silêncio profundo pairando diante do publico
 quando ela começou a dizer, com sua voz bem suave a respeito
 da rosa amada e o que ela poderia ser;
 - Seu nome, disse ela: era religião, tão bela nos seus
 dizeres, nos seus ritos de afazeres, mostrando caminhos
 profundos de belas canções ao luar. Procurando sempre uma
 maneira, em sua arte de analisar, os lapsos de uma humanidade
 caída para do quarto escuro os tirar.
 - Religiões de homens valentes, que sucumbem nos
 desertos da vida, perdendo a razão envolvida, por paixões de
 seus ideais. Louváveis gestos humanos se praticados sem seus
 enganos, de suas fachadas de flores, sobre tantos jardins de
 amores, sem dolo e sem interesse, um simples estender de
 mãos, serias então preciosa ó doce religião.
 - Porem tornastes tão cega, pelo ego de homens sem
 trégua, travando em corações suas guerras; de orgulho e
 aquisição, ganância, e execução, mostrando tua frieza por traz de
 tanta beleza ó doce religião.
 - Ó inescrupulosos corações religiosos; quem vos persuadiu
 a hastear insígnias jactanciosas sob meros rótulos de ostentação,
 se no perfume da rosa amada se encontra tamanha dádiva, no
 vermelho carmesim que é o penhor de sua flor?
 - Ó penhor derramado em graça de um céu tão cheio de
 amor, entregue a todos os homens, semelhante a essa flor,
 vermelha feito sangue a curar tamanha dor; tu és a maior
 riqueza, inefável em grandeza, marcando nossos caminhos em
 resgate de um destino, pro deserto a perecer.
 - Em tua escarlata profunda, semeastes jardins a envolver,
 nas gotas de sangue da cruz, uma cura pro pecado a vencer. Do
 pecado podemos dizer; maldição para todo o ser, que só ama a
 religião, se esquecendo de ter o penhor, sem a marca da
 vermelha flor como prova de um grande amor, pra imune da
 praga ficar.
 - És terrível ó epidemia, que ataca em toda família, sem
 fazer-te acepções, quer de credo raça ou religiões. Mas que levas
 consigo o castigo, de uma morte tão triste e terrível, causando
 tantas separações, em conflitos e até divisões. Fazendo do
 mundo um vazio, em sentimentos de desdém tão frios, de vidas
 sem seus jardins de flores, de homens sem seus amores, no
 oculto profundo de um quarto escuro, dos vagões descarrilados
 dos trilhos, e os corações tão distantes de Deus.
 Então, no final da explanação a respeito de sua peça e
 daquela encenação, ouviam-se murmúrios nos cantos,
 queixumes de indignação, pessoas pateando ao fundo, em
 protestos de insatisfação.
 Havia também muito choro, lágrimas de reconciliação, de
 vidas distantes dos lares, passados de magoas mordazes,
 abandonos de uma estação, em faróis na escuridão. Olhares fitos
 nos trilhos, sem saber qual caminho trilhar, religiosos de vários
 jardins sem o penhor querer carregar.
 E no fim da estação da vida, no calor das emoções
 sentidas, de poucos aplausos confusos; a vírgula pleiteia suposta
 interrogação, dos meigos olhos profundos a tomar sua decisão
 em posse de uma flor colhida, no cenário do jardim florido a sair
 da encenação, no fechar das cortinas do palco, de um conto de
 amor; de uma meiga rosa querida e de seu tão amado penhor.
 FIM
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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