Poemas : 

A ROSA E O PENHOR

 
CARLOS ALEXANDRE NASCIMENTO
A ROSA
E O
PENHOR
CAPÍTULOS
PREFÁCIO
O QUARTO ESCURO
NOS TRILHOS DO ABANDO
O FAROL
O PENHOR
NO ENGENHO DO PERDÃO
O ENCONTRO
RESTAURADO PELO AMOR
A ROSA E O PENHOR
PREFÁCIO
No contexto de um mundo hodierno, o palco da vida
apresenta sua versão dançante na procura de um amor em meio
a desertos de solidão. E no cenário de um quarto escuro; uma
meiga menina de musgos olhos profundos, entoa sua melodia no
assoalho de um teatro, a falar de seu amor em um mundo de
flores e faróis de varias cores, no revelar de um penhor.
Envolva-se neste romance e descubra no final de uma
estação; um vagão descarrilado dos trilhos nas saudades de um
coração ferido, em encontros de um passado esquecido, no final
de um grande amor a buscar.
O QUARTO ESCURO
Ao abrir as cortinas no teatro, do palco da vida, à vírgula
pleiteia suposta interrogação das mãos frias guardadas na prisão.
Sua mente perplexa pondera a meditar; sobre o quarto escuro
escondido no lar. Nas entrelinhas da escrita sobre a pauta da
vida, a pena se põe a deslizar, rompendo a vírgula que fica sobre
relutante anseio de expressão, expondo um afogueado
sentimento sublime, das angustias que sangra de um coração.
De paixão seus olhos se encheram, quando a viu
desabrochar; naquele jardim tão florido de pássaros a cantarolar.
Sob estagnadas pupilas em negros tons de prisões na mente, do
obscuro quarto fechado vigia as pálpebras o bailar da alegria em
meio ao frio noturno da solidão.
No estalar das labaredas ardentes ante o lume do fogo
acolhedor, seu vulto ela o percebeu. Em um pequeno relance de
olhares de um clímax encantador; sobre uma sintonia perfeita
suas almas ardiam de amor.
Aquela invasão inesperada jamais sentida em seu ser, de
temor em flagelos voltou, para sua mente em amarras e no
oculto quarto fechado suas lágrimas ele derramou.
- Se achegue, o aceno dizia; - Venha se aquentar, em
envolventes abraços amigos, ao redor da fogueira a dançar!
- Sou tão bruto de rústico linguajar, áspero em sentimento
eloquente, na sua ciranda dançante de clássicos sons para
amantes, não sei como elucidar.
- Não temas, apenas venha, ainda que em pedregulhos teu
verbo te sintas em diamantes lapidado serás. Quando em
prelúdio teu ser derramar sobre nossa ciranda dançante, das
mordaças suas ânsias liberto serás.
No compasso de sua mente a pensar, sua dança ele trança
no tear, como a lança de um tecelão a chamar sua atenção.
Então a aranha tece sua teia, em palavras a se prenderem no ar,
armando-lhe uma rede aos seus pés, para o quarto escuro a
levar.
- Quem és tu ó gentil melodia que em êxtase baila no ar,
trazendo suaves sintonias que de encanto me deixo levar?
- Sou relâmpago de lanças mordazes, inflamados dardos na
mente. Ora sou fogo que o gelo consome, ora voraz geleira
ilhada, consumida no fogo de tuas palavras, que desmancha em
águas amargas de um mar vazio perdido em solidão.
Nos trilhos do abandono
No bailar das estrelas dançantes ao redor da fogueira que
ardia, dos seus braços ela se perdeu, envolta pela melodia em
serena noite fria de vozes a cantarolar. E em meio a jardins tão
floridos varias rosas ela o viu apanhar, em vermelhas pétalas
macias aveludadas caídas ao chão, marcando o caminho com
flores mostrando a direção.
E sobre um jogo de amarelinhas no compasso do cirandar;
seus passos vacilam no prosseguir do céu ao inferno pro quarto
escuro ir. Em seu esconderijo secreto descoberto ele estava pra
ser, e de dentro do seu baú escondido pronto pra uma peça a
pregar; seu boneco de molas saltita aos sorrisos de sustos a dar.
-Espere não fuja de novo, disse ela retendo-lhe a mão, no
saltar de seu mundo obscuro para fora de seu vagão. No apitar
do trem que partia de sua mente a recordar; - sou criança sou
travesso, do apito tenho medo, mamãe está a me chamar, se ela
me pega aqui não poderemos mais brincar.
No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar,
melodia fúnebre dos sinos de sua mãe a enterrar. Caiu por entre
os vagões quando começou a procurar; aquela criança traquina,
que nos trilhos se pôs a chorar.
-Papai era o maquinista, gritou ele em sua fúria a lembrar,
do triste episodio terrível de nodoas no passado a deixar, vendo
a maquina apitando ao longe da estação abandonado a ficar.
Menino de rua cresceu até no orfanato chegar, e pro quarto
escuro correu pra um passado poder enterrar.
No ajuntar dos seus papiros ao findar o expediente do
dia, pra casa ela se recolheu. Aprofundando em suas questões de
um exaustivo quadro em conflitos, deliberando uma maneira em
sua arte de analisar; àquela disforia profunda, para do quarto
escuro o tirar.
Com os olhos carregados de sono, já em alta madrugada;
no vacilar um pequeno cochilo e um trem a apitar. E dentro da
locomotiva ela estava a viajar, quando de susto acordou sem
sono de tanto pensar e incomodada com tamanha questão ao
Pai das luzes foi rogar;
- Senhor, vem iluminar meus pensamentos, em minha alma
há um tão grande tormento de um mar revolto a banir-me em
solidão. O nevoeiro ofusca o meu barco, mas tu senhor és um
farol iluminado a mostrar-me em tua bonança a direção de um
porto em segurança.
- Em meio a conflitos de indiferença, do lar me distanciei e
em grande pranto na alma o seio materno eu deixei, na
esperança de um dia poder reconciliar e os braços paternos
novamente abraçar.
- E os trilhos me mostram o caminho de um menino sem
destino pedido em uma estação a mostrar-me a direção. Ó meu
senhor me dê forças para o lar poder chegar e aqueles trêmulos
braços abraçar, porque eles estiveram sempre abertos a me
esperar.
Então, de sono ela adormeceu aguardando um novo
amanhecer pro trem no passado voltar e em lágrimas de perdão
seus pais abraçar. Nos trilhos da vida ela passou a valorizar a
melhor coisa do mundo que é o aconchego de um lar, de quem
tem no final de uma estação um abraço amigo sempre pronto a
esperar.
O Farol
Dentro do covil de lobos como ovelha foi jogado, bem no
fundo da caverna de um frio orfanato. Já no meio da matilha de
cordeiro vira lobo e dentro da rebelião ele traça seu escopo.
Sua fuga alucinante termina em um mirante, bem no alto
do velho farol, preso como castigo nos fundos do covil perdido,
sobre uivos de uma alta temporada em duas luas cheias no
quebrar da enseada, de um mar vazio perdido em solidão.
Da vidraça encantada no topo do arranha céu era seu
segundo dia. E ao longe do horizonte seus olhos se perdiam no
silêncio do farol, de sua mente em lembranças no passar de suas
semanas. E no findar daquela cena, surpreendido foi por ela que
de longe o contemplava, perdido em seus conflitos. E ao vê-la
com seus livros meio que atordoada pelo silêncio vigente de sua
fria recordação; ele rompe em melodia sua voz a entoar em
grande sintonia sua musica a declarar;
- No horizonte por traz de teus olhos o mar se esconde.
Tímido mar em ondas que retraem barulhentas no bater de teus
contornos molhados. O azul do céu em elo ao tímido azul do mar
mostra o branco das ondas no aproximar de teu sorriso alvejante
para lhe tentar ofuscar. Porem teus lábios irradia a luz da vida
que ele jamais vai expressar.
- E no profundo alto mar então, uma ilha ele revela;
solitária em rochas profundas de um mar vazio perdido em
solidão. Ó mar tão tímido e voraz, de ondas que vem e que vai,
traga estes contornos molhados pra minhas mãos deslizar, em
aveludada pele macia e assim minha solidão apagar. Então
saberei entender; que tua beleza também tem seu lugar, quando
meus olhos assim contemplarem estes contornos molhados que
trazes pra minha alma amar. Olhando tua beleza escondida em
tua úmida areia fria, em contraste com o horizonte que se
esconde, pelos contornos que trazes ó mar.
Após a declaração sua pele incendeia-se como centelha e
em sussurros de emoção, explodindo feito um vulcão em grande
erupção, ela faz a sua declaração;
- Vejo que és poeta, pois de amor me deixo levar pelas tuas
lindas melodias, que encantam meus olhos a chorar.
- Os olhos, disse ele; é a candeia da alma que ardem pela
emoção do desejo e satisfação do olhar. Trazendo angustias no
cerne, pelas lágrimas que choram por não querer rolar. Assim é o
âmago da minha alma poeta, que suspira por querer ver apagar,
suas lágrimas que caem como orvalho do campo; em minhas
pétalas para as amparar.
- Do farol sempre lhe via quando vinhas se banhar, neste
mar de solidão, a me deixar sempre a pensar; sobre as rosas que
apanhavas em pétalas a jogar, marcando a areia molhada, no
farol sempre a chorar.
- Quem és tu ó guardião vigilante, que está sempre a olhar,
cujo vulto por traz da janela sempre vejo observar?
- Sou uma torre que vigia o vai e vem da alegria. Pássaro
ferido, faminto sem poder voar, nas asas da liberdade e um
mistério revelar;
O Penhor
- No alto do farol, uma escrita na porta jazia, vermelha
feito sangue a selar a minha sorte sobre uma revelação na
seguinte expressão;
- “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados.”
- Por um instante em minha vida, o som do sino eu escutei,
de um passado não muito distante e então investiguei, bem no
íntimo do meu ser; que metal meu coração seria a tinir triste
melodia, perdida no tempo e no vento até não mais se ouvir; se
o perdão não liberasse, ao maquinista que tocava o sino da
despedida no final da estação a partir.
No clarear da lua cheia, iluminando a velha aldeia no alto do
farol se ouvia, uma doce melodia no badalar do sino que ardia,
em belos uivos de perdão;
- Ó doador da vida, que sara minhas feridas; ao soar do meu
perdão ao maquinista distante, leve esta canção em teus quatro
ventos a buscar; a locomotiva errante, até ao fim da estação
chegar.
No fechar de suas cortinas, da janela que ele via, ela voltalhe
a atenção, fitando-lhe bem nos olhos a segurar-lhe pelas
mãos. Em suas meigas palavras num sorriso encantador, outra
janela ela abre, em sua cidade de pedras cheio de arranha-céu e
assustado com a imagem ele suspira para o céu.
- O que vê? Disse ela em sua análise, correndo a escrever e
pintar aquela imagem. - Vejo varias torres iluminadas são faróis
na enseada em acenos com as mãos, de um mundo em conflitos,
pensamentos tão perdidos, muitas vidas em prisões. São casulos
sem escritas, são faróis sem melodias, belos sinos sem badalos
de um trem sem estação.
No pintar de sua tela, misturadas cores amarelas, ela traça
o seu rumo em meio a flores exóticas a mudar a sua sorte, sobre
um ponto de fuga; vermelha rosa profunda, em essências
exalando no ar, a mostrar-lhe o caminho, para do quarto escuro
o tirar.
- Esta rosa é o meu penhor, disse ela a lhe abraçar. Cuida
dela com desvelo pois vou me ausentar, passarei por entre as
flores deste jardim de amores. Se a rosa vermelha murchar e o
perfume não mais sentir; me procure nos faróis pois lá vai me
encontrar, estarei em uma jornada, meus pais vou abraçar. E a
rosa que lhe dei deste ramo que apanhei em nosso jardim de
amores voltará a perfumar.
No passar das luas cheias, seus olhos de saudades se
desfizeram, era uma nova estação de um farol na escuridão,sem
um terceiro dia com sua rosa perfumada no regar de seu penhor,
com suas lágrimas de amor. Suas pétalas macias com o tempo
foram murchando e no enxugar de grande pranto, ao plantar seu
lindo ramo em seu jardim de amores; ele colhe varias flores.
Então, por entre um mundo de torres, de faróis de varias
cores, ele sai a procurar; com sua rosa vermelha aveludada e
macia de seu lindo jardim florido, seu grande amor a buscar pra
seu penhor entregar.
No Engenho do Perdão
Como o vento que toca o moinho, a mudar o curso das
águas, em encanto sua mente é levada, no engenho que ela
girava.
O suco da cana extraia, camponesa de olhos profundos, da
cor do fundo do lago, semelhante ao caldo tirado. No degustar
da garapa a beber, nos seus olhos tão musgos mirar, das
moléstias do sol que ameniza, ao ouvir sua voz a cantar;
- A vida é como o engenho de moinho, que amassa o grão
no seio da terra mãe tirado. E que depois de amassada farinha,
retribui na forma de pão, o alimento pra sua jornada. Assim sou
eu nesse engenho da vida, feito uma caiana amassada, que Três
vezes passo moendo, retirando o sustento de casa. No ranger do
moinho que gira, a farinha na roda de pedra; mamãezinha
socorre depressa, sua filhinha presa na pedra. Sem as pernas
sobrevivi, com a força nos braços girar, este engenho de vida que
bebes, para tua jornada animar.
- Ó doce caldo amargo, deste engenho de cana a beber,
nesta torre perdi a esperança pelas minhas tristes lembranças,
de um passado que não consigo esquecer.
- Quem és tu viandante amigo, que na torre não quer mais
entrar, que destino tu trazes no peito, desta vida de moinho a
girar?
- Sou peregrino preso na roda, um bagaço amassado de
cana, sou amargo em fel de absinto, sem sandálias perdidas nos
trilhos. Mas bebendo este doce de engenho, dos teus lábios
solfejos que emana, conquistastes essa rosa vermelha; o penhor
da minha alma que canta.
- Tu és o jardineiro das flores, esta caixa tenho que lhe
entregar, a pedido de uma amiga, que ficou a me observar. Ela
disse que alguém me daria uma rosa vermelha como penhor,
fruto de sua maior riqueza, em amarras de um grande amor. Este
então seria o sinal para também poder lhe dizer; que ela ainda o
veria, sobre os trilhos da vida a vencer.
De alegria um sorriso ele deu, no abrir de sua caixa a pular,
um boneco de molas jogando; mil confetes perdidos no ar. Bem
no fundo um poema havia, rabiscado em um papel de pão, que
deixaram seus olhos em lágrimas, ao lembrar-se daquela
estação:
- Camponesa sem pernas que andava, com os braços
chamado perdão, no engenho da vida cresceu, aprendendo a sua
canção. Assim devemos nos perdoar, dos fantasmas que nos
permeiam no ar, de nossas culpas que acreditamos e que nos
fazem aleijados ficar.
Então ele compreendeu, que aquele seria seu terceiro dia
de cura sob uma recuperação, ao ver seus fantasmas partir, por
um simples papel de pão.
No escuro da noite sem lua, ao profundo sono da
madrugada, em crescente luar uma espera, lua nova brilha na
enseada. Na estação muitas flores havia, o jardim que mudou de
lugar, aguardando o apito do trem, lua cheia pra rosa voltar
O ENCONTRO
Lágrimas que caem ao chão, sem as flores para amparar,
pelo tempo que foi se passando, a fazer suas pétalas murchar.
Seu olhar no cume da montanha, a fumaça não quer se mostrar,
do apito de um trem que não chega, sem os trilhos a descarrilar.
De paixão sucumbiu o luar, em eclipse com o sol a brilhar,
tendo como platéia as estrelas, de uma noite que não quer mais
passar. Não há mais flores em seu jardim de amores, nem mais
bonecos de molas a pular, de um vagão que não sai de sua
mente, sem saber quando ela vai regressar.
Forjado no calor das emoções, incessante bigorna a sofrer,
retinindo nos trilhos da aldeia, férrea linha locomotiva a trazer.
De jardineiro a ferreiro se fez, derretendo o ferro a moldar,
no suor escorrendo do rosto, trilhos novos pro trem desfilar.
- Minhas rosas enferrujaram, solidão quer de novo
envolver, no calor que suporto em minha alma, das angustias do
quarto escuro a temer.
- Negras nuvens que cobrem o luar, desta aldeia sobre todo
o meu ser, que destino terá a minha alma, como posso sem ela
sobreviver?
- No vazio ilhado que invade, singular sentimento no
coração, não há flores em minha jornada, somente pétalas de
separação.
- Que os céus goteje esperança, em meus ombros
queimados de dor, pelos trilhos pesados que levo, ao encontro
de tamanho amor.
No caminho de um sol escaldante, de conflitos no deserto
da vida, sucumbe a razão dos amantes, a provar a paixão
envolvida. Já prostrado pelo cansaço, no tombar de uma
imensidão, vulnerável desfalece em silêncio, sobre a sombra de
um velho vagão.
- Quem és tu que o deserto atravessa, em coragem e
determinação, que destino tu trazes na alma, nestes trilhos
envolto em solidão? Sua voz ecoava ao fundo, toda tremula ante
a situação, ao olhar que o menino dos trilhos; era o filho deixado
na estação.
- Fui forjado nos trilhos da vida, sob a sina de um triste
vagão, aprendendo em moinhos de trigo, melodia a falar de
perdão. Em meus ombros feridos carrego, um só elo pro vagão
andar, pelos trilhos rompidos na alma, de um amor descarrilado
a buscar.
- Sua voz soa familiar, no apitar do apito do trem, melodia
suave aos ouvidos, em lembranças de um passado de alem.
Cicatrizes carrego comigo, de abandono de muito castigo,
orfanatos de solidão, em um quarto escuro escondido, no vazio
de um vagão.
- Quem és tu ermitão do deserto, qual o conto trazes no
coração, o que fazes no vácuo perdido, na carcaça deste velho
vagão?
- Sou a dor da saudade que bate, cada dia dentro deste
vagão, consumindo a minha alma em angustias, estilhaços de
separação.
- Ao redor de uma mesa ceava, a família no repartir do pão,
de mãos dadas agradecíamos com o coração cheio de gratidão.
Porem sobre aquela aldeia, pairava uma nuvem sombria,
agressiva epidemia avassaladora a dizimar. Ceifando a vida no
campo, derradeiros rastros em pranto, de lágrimas a contaminar.
- A fome foi chamada na terra, a morte passou a reinar,
cada casa, cada família, triste peste a alastrar. O luto estampado
no rosto, de um olhar tão perdido em desgosto, ao sentir o
cheiro nas portas, da doença minha casa entrar.
- Nas perjuras de amor que fizemos, minha amada e eu a
chorar, com o fruto do amor protegendo pro menino não
contaminar.
- A aldeia obrigava a embarcar, no apito do trem a levar,
todo aquele que a praga pegava, pro deserto errante vagar.
Quão dura foi a decisão, pro filhinho não se contagiar, minha
amada e eu decidimos, pra criança então sobreviver; na estação
com o boneco de molas, brincaríamos de pique esconder.
- Mas os trilhos marcaram o destino, no ultimo apito do
trem, assustado o menino gritou, coração de mãe desesperou,
ao encontro do choro enxugar...
Um profundo suspiro na alma, interrompe o desfecho de
dor, no silêncio do vácuo perdido, pai e filho no quarto escuro
escondido, entre lágrimas perdidas nos trilhos, das lembranças
de um grande amor.
Restaurado Pelo Amor
No frio da madrugada, no silêncio do deserto de dores, ao
lume da fogueira aquentava, solitários de uma lua cheia, a
lembrar-se da velha aldeia.
Com os olhos perdidos no tempo, de vidas jogadas ao
vento, no assobiar de uma canção; ao redor do calor entoavam
melodia vinda do coração;
- O amor que vence barreiras, em qualquer situação, ele
cura profundas feridas de grande separação. De mãos dadas ao
redor do fogo cantamos, sinfonia a falar de perdão. Assim
vencemos o frio noturno, no aquentar dessa triste canção.
De repente um vulto passou, ao redor das brasas que
ardiam, era sua rosa querida, no bailar de grande alegria, com
seu sorriso solto no ar. Em um relance de olhar de um clímax
encantador, sobre uma sintonia perfeita; sua alma queimava de
amor.
Porem ela não o percebeu, quando ele começou acenar,
com seus olhos perdidos no tempo, não podia mais enxergar. A
praga roubou-lhe a visão, quando ela foi se encontrar, com seus
pais no deserto perdido, pra poder os abraçar.
Então uma rosa de ferro mostrou, forjada de uma bigorna a
sofrer, no calor das emoções a fazer, um penhor pra lembrar seu
amor. - Este penhor que lhe dou não tem o cheiro das rosas, nem
o perfume da flor em amarras de grande amor, mas resiste ao
tempo, no calor e no frio relento, tempestades no deserto em
ventos de dunas dos meus sentimentos, enlaces de meu grande
amor. Porem pode enferrujar, se guarita não mais encontrar,
quando a chuva serôdia cair, em minha alma no deserto a partir.
Quando ela a rosa sentiu, suas lágrimas nas pétalas caiu,
exalando seu perfume no ar, melodia dos seus lábios a cantar,
sua canção a falar de amor de um lindo jardim ao luar;
- No penhor do meu amor da rosa que lhe dei; fizeste um
jardim de flores, em tempos de amores. E em meio a moinhos da
vida, no verde do engenho a girar; saístes do quarto escuro, pra
meiga camponesa ajudar, bebendo do doce do engenho até meu
penhor lhe entregar.
- De sua maior riqueza, dividistes tamanha beleza, na
grandeza de teu coração. Por isso deves voltar, à aldeia e
anunciar, que de teu grande amor em poder, exalastes virtudes a
envolver, proteção para todo o teu ser, até imune da praga ficar.
Foi então que ele sentiu, em seu corpo um forte calor, ao
lembrar-se que o tempo passou deste que seus pés ali ele pisou,
em uma noite sem lua, no frio do deserto a surrar e agora era já
lua cheia, sem ele se contaminar.
No deslizar dos trilhos da vida, locomotiva se pôs a soar,
melodia alegre dos sinos, de um coração feliz a embarcar.
Ramalhete de flores colhia, de seu jardim na estação a entoar,
sua canção a falar de amor, de um povo distante a buscar;
doentes do deserto errantes, excluídos em tamanha dor, que
aguardavam a chegada da cura, através de um gesto de amor.
E pra cada vida que vinha, a ouvir sua triste canção, uma
flor vermelha ele tinha, em pétalas exalando no ar, o perfume de
sua rosa amada, na partida do trem a apitar.
A Rosa e o Penhor
Ao fechar as cortinas do teatro, no palco da vida, após
aquela apresentação, entra em cena o deslizar de duas rodas no
assoalho do cenário a reter-lhes a atenção. Era uma meiga
menina de musgos olhos profundos, da cor do fundo do lago a
encerrar o espetáculo.
Havia um silêncio profundo pairando diante do publico
quando ela começou a dizer, com sua voz bem suave a respeito
da rosa amada e o que ela poderia ser;
- Seu nome, disse ela: era religião, tão bela nos seus
dizeres, nos seus ritos de afazeres, mostrando caminhos
profundos de belas canções ao luar. Procurando sempre uma
maneira, em sua arte de analisar, os lapsos de uma humanidade
caída para do quarto escuro os tirar.
- Religiões de homens valentes, que sucumbem nos
desertos da vida, perdendo a razão envolvida, por paixões de
seus ideais. Louváveis gestos humanos se praticados sem seus
enganos, de suas fachadas de flores, sobre tantos jardins de
amores, sem dolo e sem interesse, um simples estender de
mãos, serias então preciosa ó doce religião.
- Porem tornastes tão cega, pelo ego de homens sem
trégua, travando em corações suas guerras; de orgulho e
aquisição, ganância, e execução, mostrando tua frieza por traz de
tanta beleza ó doce religião.
- Ó inescrupulosos corações religiosos; quem vos persuadiu
a hastear insígnias jactanciosas sob meros rótulos de ostentação,
se no perfume da rosa amada se encontra tamanha dádiva, no
vermelho carmesim que é o penhor de sua flor?
- Ó penhor derramado em graça de um céu tão cheio de
amor, entregue a todos os homens, semelhante a essa flor,
vermelha feito sangue a curar tamanha dor; tu és a maior
riqueza, inefável em grandeza, marcando nossos caminhos em
resgate de um destino, pro deserto a perecer.
- Em tua escarlata profunda, semeastes jardins a envolver,
nas gotas de sangue da cruz, uma cura pro pecado a vencer. Do
pecado podemos dizer; maldição para todo o ser, que só ama a
religião, se esquecendo de ter o penhor, sem a marca da
vermelha flor como prova de um grande amor, pra imune da
praga ficar.
- És terrível ó epidemia, que ataca em toda família, sem
fazer-te acepções, quer de credo raça ou religiões. Mas que levas
consigo o castigo, de uma morte tão triste e terrível, causando
tantas separações, em conflitos e até divisões. Fazendo do
mundo um vazio, em sentimentos de desdém tão frios, de vidas
sem seus jardins de flores, de homens sem seus amores, no
oculto profundo de um quarto escuro, dos vagões descarrilados
dos trilhos, e os corações tão distantes de Deus.
Então, no final da explanação a respeito de sua peça e
daquela encenação, ouviam-se murmúrios nos cantos,
queixumes de indignação, pessoas pateando ao fundo, em
protestos de insatisfação.
Havia também muito choro, lágrimas de reconciliação, de
vidas distantes dos lares, passados de magoas mordazes,
abandonos de uma estação, em faróis na escuridão. Olhares fitos
nos trilhos, sem saber qual caminho trilhar, religiosos de vários
jardins sem o penhor querer carregar.
E no fim da estação da vida, no calor das emoções
sentidas, de poucos aplausos confusos; a vírgula pleiteia suposta
interrogação, dos meigos olhos profundos a tomar sua decisão
em posse de uma flor colhida, no cenário do jardim florido a sair
da encenação, no fechar das cortinas do palco, de um conto de
amor; de uma meiga rosa querida e de seu tão amado penhor.
FIM






































































 
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calex
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/10/2014 02:10  Atualizado: 06/10/2014 02:10
 Re: A ROSA E O PENHOR
Um show!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/10/2014 15:16  Atualizado: 06/10/2014 15:16
 Re: O QUARTO ESCURO á calex
essa menina de musgo olhos profundos em um mundo tão bonito dentro dla,só faz pena,ela ser tão triste,mesmo q exista sons e luzes rodeando sua alma, me pareceu q ela passou por muito sofrimento em sua vida e mesmo assim n perdeu o dom do encanto e da magia de ver e fz beleza nas pequeninas coisas.calex vc um dia me disse q n era poeta, se escrever assim n é ser poeta, então cara sinceramente acho q não sei mais o que é poesia e poetas.vc é muito show, vc escreve um mundo fantástico,onde dá vontade de morar dentro desse mundo e n sair mais dele,rsrsrs.

pra vc e sua personagem umas das mais bonitas q já vi em minhas leituras por essa vida afora.





Enviado por Tópico
Ro_
Publicado: 25/11/2014 15:16  Atualizado: 28/11/2014 15:07
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Localidade: Brasil
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 Re: A ROSA E O PENHOR
Que show meu amigo querido!
Torcendo muito por vc, sempre, sempre!


*-*

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/12/2014 15:13  Atualizado: 18/12/2014 15:13
 Re: A ROSA E O PENHOR

Enviado por Tópico
Volena
Publicado: 19/12/2014 22:08  Atualizado: 19/12/2014 22:08
Colaborador
Usuário desde: 10/10/2012
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Mensagens: 12485
 Re: A ROSA E O PENHOR P/calex
Achei adorável! Um texto que é uma cantata onde a música suave e delicada se vem ouvindo enquanto o lemos e fiquei penhorada. Os meus parabéns e uma rosa virtual. Vólena

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/12/2014 11:36  Atualizado: 27/12/2014 11:36
 Re: A ROSA E O PENHOR

Enviado por Tópico
acalenta
Publicado: 30/12/2014 16:07  Atualizado: 30/12/2014 16:07
Colaborador
Usuário desde: 25/08/2010
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Mensagens: 5389
 Re: A ROSA E O PENHOR
Ola Calex!!!!


Um texto que fala de tudo bem escrito principalmente onde vc fala das flores, petalas, perfume, amo, parabéns belo de mais,

beijos

acalenta

Enviado por Tópico
RayNascimento
Publicado: 14/05/2015 13:18  Atualizado: 14/05/2015 13:18
Membro de honra
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Localidade: Monte Roraima - tríade fronteira Brasil/Guyana Inglesa/Venezuela - - Amazônia - Brasil
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 Re: A ROSA E O PENHOR
Nas veredas da tua escrita há um universo ímpar
Que é extraordinário...
Escreves de forma peculiar
Valendo cada minuto da leitura,
Deixando a rosa da amizade para ti.
Showww de bola.
Ray Nascimento
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Enviado por Tópico
Teli
Publicado: 22/06/2015 18:09  Atualizado: 22/06/2015 18:09
Colaborador
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Mensagens: 946
 Re: A ROSA E O PENHOR
Gostei de teu conto. Desenvolves muito bem uma história. Parabéns, meu querido amigo e Poeta. Um beijo em teu coração valioso.

Enviado por Tópico
Eureka
Publicado: 08/05/2016 09:02  Atualizado: 08/05/2016 09:02
Membro de honra
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Mensagens: 4297
 Re: A ROSA E O PENHOR
Bom dia Calex,

Muito obrigada pela leitura maravilhosa que me proporcionou.
As personificações usadas resultam perfeitamente na forma como as enquadrou no "conto", onde retive, na primeira parte (até ao Farol) , mensagens familiares para mim, que trouxeram lágrimas aos meus olhos pela sua beleza e também pela narrativa que para mim, sinto que me diz muito de minha própria realidade.
Parabéns, gostei imenso da sua partilha.

Um abraço
Maria/Eureka