
A Canção de Bagdá
Data 30/10/2014 00:35:08 | Tópico: Poemas
| Os olhos negros de Emab já não choram. Estão secos. Secos os olhos, os seios, os corpos e os campos. Secos, como a oliveira que do antigo terraço assistiu a chegada de cada uma das mil e uma noites. Secos, como são os homens que metralham a esperança e bombardeiam a inocência.
Foi-se o sândalo e a mirra evaporou inútil, pois eis que o cheiro é só o cheiro da morte, que compartilha o tempo da vida.
Calaram-se os mercadores e tornaram-se imóveis estátuas as mulheres que dançavam desde a noite dos tempos.
Noites que já foram mil e que agora nem se contam. O relâmpago da bomba assassina pari breves dias instantâneos,
e ruge a eterna ciranda da fúnebre fome de perpétua demanda.
Aos povos que sofrem o flagelo das guerras dos homens.
Lettré, l´art et la Culture - Rio de Janeiro, Primavera de 2014.
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