Sem mais que seja

Data 03/02/2008 13:44:55 | Tópico: Poemas

Sem mais que seja
esta chuva obliqua (re)encontrada a cada momento
entre velas pandas de oolíticas águas,
oiço agora, ali à frente, o rio Tejo a emudecer-se,
ao tombar no Bugio, no útero das horas bravas.

Sem mais que seja,
sem mais veja, que este muro permanente de sílica qual cristal
onde se delineiam brilhos pálidos do impossível,
a alma vareja e tomba
e a natureza sela-me lábios exauridos em películas de gelo
quando o Inverno chega exausto,
na forma inteira,
e se aninha,
e me aninha,
e, num misto disputado entre a melifluidade
e a mais insana algolagnia,
me faz sua, se me fala, se me embala e cansado adormece.

Mutilo então o silêncio do mar largo e repartido
entre a fuga e um sexto sentido.
Em pranto, na volúpia d’éter rarefeito,
confundo-me, dissolvida no subconsciente d’hermético mundo.

Sem mais que seja ...



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