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Sem mais que seja

 
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Sem mais que seja
esta chuva obliqua (re)encontrada a cada momento
entre velas pandas de oolíticas águas,
oiço agora, ali à frente, o rio Tejo a emudecer-se,
ao tombar no Bugio, no útero das horas bravas.

Sem mais que seja,
sem mais veja, que este muro permanente de sílica qual cristal
onde se delineiam brilhos pálidos do impossível,
a alma vareja e tomba
e a natureza sela-me lábios exauridos em películas de gelo
quando o Inverno chega exausto,
na forma inteira,
e se aninha,
e me aninha,
e, num misto disputado entre a melifluidade
e a mais insana algolagnia,
me faz sua, se me fala, se me embala e cansado adormece.

Mutilo então o silêncio do mar largo e repartido
entre a fuga e um sexto sentido.
Em pranto, na volúpia d’éter rarefeito,
confundo-me, dissolvida no subconsciente d’hermético mundo.

Sem mais que seja ...


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 03/02/2008 14:06  Atualizado: 03/02/2008 14:06
Colaborador
Usuário desde: 24/07/2007
Localidade: BRASIL
Mensagens: 6868
 Re: Sem mais que seja
"oiço agora, ali à frente, o rio Tejo a emudecer-se,
ao tombar no Bugio, no útero das horas bravas."
Mel, estes versos me arrepiaram os sentidos. Imagens marcantes fincaste às minhas retinas. Isso é a genuína poesia. Um beijo e feliz domingo! Núria

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 03/02/2008 14:09  Atualizado: 03/02/2008 14:09
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4038
 Re: Sem mais que seja
Querida Mel,

Sou residente e com muito gosto.

Mais um belo poema.

Bjs

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/02/2008 14:14  Atualizado: 03/02/2008 14:14
 Re: Sem mais que seja p/ Mel de Carvalho
Sem mais que seja... essa poesia qual cenário de inigualável beleza, onde pulsa a vida e o amor.
Lindo!
Beijo,