há sons que trespassam a noite [cortam-na pela metade]

Data 19/02/2015 19:08:08 | Tópico: Poemas

..........
.
.
.......................
.
......................
.................
..............
..........................
.
.
.
.
....................................
...................................
.......................
...................
....................
...................
*************************************

há sons que trespassam a noite [cortam-na pela metade]
como sigas afiadas a pele

e gaivotas que gritam a norte em pleno Tejo nos dias tristes

planando sem o bater das asas
sem o descanso.

De nada serve o sufoco do caminhar
distante
incrédulo

calcando chuva a cada passo

nada trazem as canseiras que esgotam
atrofiam
ou aqueles horizontes insuperáveis
crepúsculos passageiros
desejos
perversos
que atravessam paragens certas.

Definha o sexo antes exuberante
empinado

breve o tempo que se desejava eterno
imparável
assim fossem os dias
as noites
o amar
porque não as fugas?

Tudo regressa.

Há gaivotas que gritam trespassando os silêncios das noites que sobraram dos dias tristes

[e há um rio que o mar engole].



Fico-me então com os meus demónios.


(Ricardo Pocinho)




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=288203