Paz, esse pássaro triste

Data 11/03/2015 01:56:06 | Tópico: Poemas

penduro o meu vestido nas asas da saudade
e mando-a correr mundo
à procura de sinais de fome e frio
que façam parecer fútil desejo
esta minha insaciedade

é arrepio na pele o campo de papoilas
que o vento já não despenteia
e o que me reune é o cheiro que ficou
embriagante
nos mínimos detalhes do silêncio
que deixaste sobre a cama

parece-me
meu amor
que percorri lendas bíblicas, rasguei séculos
desde a minha última nudez

digo às minhas mãos que confundam a luz da tarde
acendendo nos dedos noites que já não vês
por serem da cor exacta da minha pele

e desço o caminho fácil do encontro
das mornas águas
mansas e fundas águas do meu corpo
onde bebe um pássaro saciado
:
a saudade
essa ave disfarçada de mim
rasgada dos vestidos que eu lhe dera
parte-me deixando o meu sangue dócil
misturado com incenso
de oliveira

.









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