Poemas : 

Paz, esse pássaro triste

 
Tags:  Rascunhos  
 
penduro o meu vestido nas asas da saudade
e mando-a correr mundo
à procura de sinais de fome e frio
que façam parecer fútil desejo
esta minha insaciedade

é arrepio na pele o campo de papoilas
que o vento já não despenteia
e o que me reune é o cheiro que ficou
embriagante
nos mínimos detalhes do silêncio
que deixaste sobre a cama

parece-me
meu amor
que percorri lendas bíblicas, rasguei séculos
desde a minha última nudez

digo às minhas mãos que confundam a luz da tarde
acendendo nos dedos noites que já não vês
por serem da cor exacta da minha pele

e desço o caminho fácil do encontro
das mornas águas
mansas e fundas águas do meu corpo
onde bebe um pássaro saciado
:
a saudade
essa ave disfarçada de mim
rasgada dos vestidos que eu lhe dera
parte-me deixando o meu sangue dócil
misturado com incenso
de oliveira

.







 
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Propoesia
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Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 05/04/2015 10:46  Atualizado: 05/04/2015 10:46
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Paz, esse pássaro triste
Bom dia poeta!

Encontro um lirismo de textura mansa, impressionante!

"Paz, esse pássaro triste", é das poesias que tenho tido a oportunidade de ler por aqui, a mais bela, e o meu olhar poetizado, agradece.

Abraços, Propoesia!!


Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 05/04/2015 11:34  Atualizado: 05/04/2015 11:34
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8102
 Re: Paz, esse pássaro triste
Ler destes poemas é um incentivo e um desafio para quem gosta de poesia. Tão belo. Bjo


Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 06/04/2015 19:47  Atualizado: 06/04/2015 19:47
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5735
 Re: Paz, esse pássaro triste
poesia, esse ave voo que rabisca no céu os mais belos arabescos.
poeta, esse passarinheiro que se eleva só pra ser ave junto.


Belo demais!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/01/2016 17:20  Atualizado: 29/01/2016 18:42
 Re: Paz, esse pássaro triste
Quase a minha cama
No chão, quem dera
não ser de cimento
E a noite quase dia

Pra que se desmanchasse
Esta vontade de ficar
Por tudo e fazer-me
"À vida" com tudo quase

O que acontece de novo
Por já ser de dia
No chão tijolo burro
Da minha oficina

De "barbeiro de vontade
Pouca", quase cama
Na sala do muito
Amar-me-eu-não

Faço de cama minha
Esse duro chão...