Fotografia Silenciada

Data 13/05/2015 00:23:53 | Tópico: Poemas

Tranço o cabelo. Não há nenhuma dor que me apanhe as pontas dos cabelos sem eu querer que fogo me queime o corpo.

Os meus lábios mexem-se e ainda assim não dito nenhum som. Embebedo-me em silêncio, o melhor dos remédios para uma mente que não se acomoda com o ruído de toda a existência de uma cidade tão estritamente desenhada em cinzento.

Levanto-me e não me deixo abanar.
Sei que a hora de ir não tarda. Sei que toda esta ânsia não durará num quadro que foi pintado em aguarelas , em tempo de nuvens.

Encosto-me à parede e deixo-me ficar. Sei que um sorriso não viria pedido. Sei que um choro já foi ditado em outros tempos de sol e radiações de nada.

Deito-me no sofá vermelho de uma garagem velha. Oiço o ricochete da guitarra em torno de ferro velho sem dono. Volto às origens.

A pedra rola se for bem talhada. A pedra talha se não for para rolar.
Quem não vê, pinta. Quem não faz, ensina. Quem não é, tenta ser.

Quem não amargura, deixa ficar silenciada a fotografia de tempos.
E quem já não te ama, esquece-te.

Lau'Ra



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