Ela caminhava tacteando no silêncio da noite

Data 25/09/2015 23:02:33 | Tópico: Textos -> Amor

Foi numa tarde de sábado que te vi partir, o céu chorava bastante, os pássaros não tinham sossego, aventava muito, as árvores dançavam tango com o vento, as aves não tinham onde pousar, ondulavam nas nuvens carregadas de lágrimas, que embaciavam olhos da lua. E tu decidida a partir, encobriste com a escuridão da noite que parecia provir das copas frondosas das árvores. Caminhavas tacteando no silêncio que metia medo aos deuses das trevas.
Ao longe, o uivar dum coiote quebrou a monotonia do tempo, ecoando entre gargantas das montanhas que pareciam arranha-céus duma cidade adormecida. Apesar desta panorâmica assustadora, tu não assustaste, tinhas sempre o olhar em frente e era para frente que te conduziam teus pés de menina determinada à desafiar o impossível, de longe te seguia, apreciando tua ousadia, que a nenhuma alma vivente recomendaria.
O dia se anunciava no horizonte colorido, quando te vi agachar e apanhar uma rosa arrancada pelo vento da noite anterior, soltei um assobio, ergueste a cabeça e me chamuscaste com teu lindo olhar, o céu sucumbiu, meu coração parou, te dirigi um olá tímido, e tu retribuíste com o mais belo sorriso do mundo das beldades. Quis correr e aninhar-me nos teus braços, mas meus pés não obedeciam, pareciam plantados ao chão molhado e escorregadio, e tu, bamboleando tuas perfeitas ancas, vieste depositar beijo nos meus lábios trémulos, fechei os olhos e quando os abri, desfaleci nos teus braços, e tu, minha doutora, minha curadora do amor, olhaste para o céu, humedeceste lábios e me beijaste a alma, do mundo dos mortos por amor ressuscitei e abraçados, regressamos ao nosso kimbo, às nossas machambas e aos jardins do nosso namoro.

Adelino Gomes-nhaca



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