 
  
    	"Olhos cor de sangue" para José Silveira
    	Data 25/02/2008 00:36:50 | Tópico: Textos
 
  |  José Silveira, roubo-lhe um título entre aspas, para traduzir o que senti ao viver seu poema. Obrigada, e muito.
 
 
  Você já provou a sensação afiada do desprezo a lhe cortar a carne, a lhe retalhar a dignidade onde você, confortavelmente, antes dormia?   Já percebeu o estranho veneno da recusa,  brotando de pórticos desconhecidos,  a lhe arder nas jovens artérias até então ignoradas?  Já sofreu no íntimo,  como se fosse uma pegada forte da mão da morte,  no recanto torácico onde mora o coração,  a agressividade sem nome do desamor,  recompensa infernal ao seu simples desejo de amar?  E a fronte firme em desalinho convertida,  os olhos estreitos de medo e angústia  a lhe pesarem na face atônita, já sentiu?  E uma dor aguda no osso nasal,  Que descreve o trajeto macabro da rejeição  ao lhe travar os pensamentos e  lhe embargar a voz,  enquanto você dá praticamente a vida  para não se render a uma mísera lágrima que,  prestes a derrubar o mundo feliz e podre  que você construiu com os seus sonhos,  teima em rolar, indiferente ao seu tormento,  já experimentou?
  Presa a esse quadro escrevo estas palavras vermelhas  que emolduram o meu sofrer profundo,  sentindo-me árida e ferida,  dilacerada pela lâmina impiedosa  de quem grita, mudo,  que nunca me amou. Nas mãos, a perda.  Nos lábios, o fel perene do adeus.  Nos olhos, todo o sangue que me restou.
  É isso.
 
 
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