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"Olhos cor de sangue" para José Silveira

 
José Silveira, roubo-lhe um título entre aspas, para traduzir o que senti ao viver seu poema.
Obrigada, e muito.



Você já provou a sensação afiada do desprezo
a lhe cortar a carne, a lhe retalhar a dignidade
onde você, confortavelmente, antes dormia?
Já percebeu o estranho veneno da recusa,
brotando de pórticos desconhecidos,
a lhe arder nas jovens artérias até então ignoradas?
Já sofreu no íntimo,
como se fosse uma pegada forte da mão da morte,
no recanto torácico onde mora o coração,
a agressividade sem nome do desamor,
recompensa infernal ao seu simples desejo de amar?
E a fronte firme em desalinho convertida,
os olhos estreitos de medo e angústia
a lhe pesarem na face atônita, já sentiu?
E uma dor aguda no osso nasal,
Que descreve o trajeto macabro da rejeição
ao lhe travar os pensamentos e lhe embargar a voz,
enquanto você dá praticamente a vida
para não se render a uma mísera lágrima que,
prestes a derrubar o mundo feliz e podre
que você construiu com os seus sonhos,
teima em rolar, indiferente ao seu tormento,
já experimentou?

Presa a esse quadro escrevo estas palavras vermelhas
que emolduram o meu sofrer profundo,
sentindo-me árida e ferida,
dilacerada pela lâmina impiedosa
de quem grita, mudo,
que nunca me amou.
Nas mãos, a perda.
Nos lábios, o fel perene do adeus.
Nos olhos, todo o sangue que me restou.

É isso.


 
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Amora
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/02/2008 02:54  Atualizado: 25/02/2008 02:54
 Re: "Olhos cor de sangue" de José Silveira para Amora
Querida Poeta,

Em todas as suas interrogações, eu lhe direi; Não.
Nem sei se resistiria tal martírio.

Se me perguntares, quão sinto, digo-lhe:

"Sinto por ti mulher, das marcas por tais provações".

É uma citação minha. Ofereço-a à ti.

1Bjo.