São sentimentos

Data 25/02/2008 21:50:15 | Tópico: Textos -> Amor

Derivadas de sentidos próprios. Onde eu, somente eu posso auscultar os passos que se dão em direcção a um desespero que impera no ímpeto humano. Nunca fomos mais do que um poço de destruições vãs. Todo o que se deseja, no fundo, é o auto-consumo de nós próprios em relação a um despejado e horrífico apreço à vida.
O amor, essa vã palavra que se emprega, cada vez mais eu sentido brejeiro, morre nas bocas de actos que não merecem ser assim catalogados, nem tampouco adjectivados, de um sentido imenso que remete para uma magnânime interferência de sentidos e filosofias. Como me iniciava, o amor já não nos habita pelas propriedades devidas. Hoje em dia o amor é cada vez mais uma peça rotular de pessoas que se necessitam de consumir umas às outras para atingir uma plenitude que já não se consegue em simples actos ou momentos. Sinto que o sentimento que apregoei ser concomitante entre os fruídos consumistas de plenitude remete, tão-somente, para um estado onde as coisas funcionam cada vez pior num mundo que queremos cada vez mais instável – porque nos faz viver – e mais distante, ao mesmo tempo. Estou em crer que o amor (vero amor), morreu.
A morte aceita este sentimento como seu. Também, pudera! Quem lhe mais idêntico será? Não seria injusto de todo afirmar que são opostos. Mas não quero afirmar tal. Não é justo para ambos. Juntos <br />importam e comportam em si mais do que qualquer outro sentimento! Diria que são o pleno de conjugação máxima de um grupo de sentimentos menores. E que em todos podem vestir casacos diferentes. Sendo a morte mais figurativa que real. Para uma pessoa morrer ou querer morrer, necessita de uma dimensão maior que a dimensão da pessoa em si. Imaginemos o devir da morte à pessoa. Quando esta lhe confessa que não mais aguenta. Que a sua vida mais não lhe faz sentido. Que pessoa quer tudo da vida? Que pessoa se distancia da mesma? É estranho questionar tal coisa. Mas num fundo bem superficial é fácil de encontrar a resposta que se procura.
Existem pessoas várias e estou em crer que quando mais variadas forem mais saudável será para elas mesmas. Quantas mascaras usamos nós. Quantas vezes vão de encontro a nós? Lembro-me do dia em que a morte afirmou ao amor:
- Amo-te. Disse a morte, certa de que esse sentimento a habitava numa imensidão que lhe metia dó.
- Como me albergas tu em ti se eu próprio estou aqui, defronte à tua projecção metafísica. Não estarás tu confusa. Disse um amor puro e maduro que enquanto bebericava a sua chávena de café olhava sentimentos azafamados nas ruas de um país que ainda não existe.
- É possível que sim, que esteja… mas como me explica o que sinto então, Amor? Que é isto que cresce de tão alarmante forma em mim? Questionou a Morte. Sentia-se tão abalada pela feminina forma, pelas fragilidades foragidas.
- É possível, só possível que te estejas a transmutar.
- A metamorfosear? Impossível! Repeliu.
-Talvez seja amor, talvez não… nunca o saberás pois eu não te moro nas medidas que as regras demandam.
- Pode ser amor… disse a Morte. – Um diferente amor. Onde tudo tem um tempo e um lugar. Onde uma conjugação, pelas coisas que contem, possibilita a não concretização de momentos. Onde não acontece o que deve acontecer. O que é suposto acontecer! O que se deseja, em suma.
- Pode ser, Morte. É possível. São casos de desamores, de violentas objecções à postura de um sentimento retractado no mundo que existe lá fora. São amores diferentes. Fora da minha jurisdição sentimentalista.
- Mas…
- Mas nada, Morte. Somos possíveis, hoje somos enovelados.
E quando a imagem se afasta do momento secreto que os sentimentos detêm e juram reservar só para si. O mundo revela-se mais verdadeiro. As pessoas que se desprendem da vida tendem a ter um amor que reside nas profundas e estranhas vísceras da morte. Não que seja ele estranho, contra natura, anormal. Amores e desamores são a mesmíssima coisa. Somente têm tactos diferentes. Dimensões para as quais não estamos preparados. Mas pelas quais desejamos uma vida inteira. Pois quem disse que não se pode amar sem nunca se ser beijado?

Mesmo que não seja do vosso agrado. Criticas são sempre bem vistas por aqui. Tanto mais que escrever assim é novo para mim.


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