DOIS DE MARÇO

Data 02/03/2016 12:09:29 | Tópico: Prosas Poéticas

DOIS DE MARÇO

O curioso é ver como as pessoas se relacionam.

A gente se conhece, se desconhece e se reconhece: É como um ciclo cada relação!
E amadurecer talvez signifique entender esse ciclo. Ponderar sobre o momento de cada um.

Sim, nesse momento posso estar desconhecendo alguém que conheci para a reconhecer...
Meus olhos param de procurar outros olhos e se encantar com outros sorrisos.
Meu coração parece hibernar, batendo lento e suave. Um pulso quase imperceptível.
Quem me visse diria que não habito mais meu corpo...

No entanto, todos os dias eu me levanto cedo; trabalho e cumpro minhas obrigações.
Quando tenho tempo livre, escrevo e leio compulsivamente.

Não culpo mais a mim ou a Deus. Pacificado, embora
não consiga rezar ou ter qualquer acto tendo vista a minha salvação
fosse mediante fé; fosse mediante obras...
Não me salvo ou permito que me salvem. Tenho passado os dias indiferente a isso.

Deus, quem quer que seja Ele, não tem me inspirado o desejo de ser salvo,
portanto, está me destinando ao limbo que pouco difere de minha vida actual.

Não me incomoda isso.

Se Deus não me quer entre os seus, Ele deve ter lá suas razões.

Nunca vi a salvação como mérito pessoal, sim como uma alegria inspirada pelo divino capaz de levar o homem a se aproximar do sagrado.

Alegria essa que não experiencio há séculos...

Penso que quando a Fé acaba, tudo o que resta é religião, isto é, a sistematização da necessidade humana de conhecer Deus mediante práticas, hábitos, tradições, regras, ideais, respostas...

No fim, o amor se impõe como o dedo de Deus apontado!

Obediente, amo. Mesmo que me sinta tão mal depois.

Não. As circunstâncias da vida não me permitem o amor. Eu devo apenas seguir em frente e tentar manter as coisas simples: Talvez todo encontro amoroso necessite ser fugaz.

Ainda assim, o amor permanece como um mistério. Sei lá... Não sei mais no que acredito.
Tampouco se ainda faz sentido acreditar.
Acreditar? Sim, acreditar: Saber sem saber porquê.

Humildemente, eu amo porque preciso amar. Isso me faz fraco porque suscetível.
Amando, eu me reconheço incapaz de ter uma experiência plena de mim.
Ouvir e ser ouvido; tocar e ser tocado; ver e ser visto... O outro faz com qu'eu me revele a mim.

Se Deus for de facto amor, minha pequena fé pode brilhar como o sol e, amando, eu posso ser capaz de ser melhor; de querer ser melhor. Por consequência, beatitude e santidade.

É apenas por amor que alguém se torna bom.

Betim – 02 03 2016


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