Arrebol

Data 15/04/2016 01:33:18 | Tópico: Poemas



Há tanto tempo o céu deixou de ser
azul simples
quando eu o penso
Teu

ao tempo que
as águas transbordaram
e sob a pele das nuvens
correu um rio de sangue

ao limbo do madrugar das asas
ou do anoitecer dos dias,
não sei bem

há quanto tempo
a cor da fonte inversa
do magenta
beijou a cor de ciano
dos meus lábios

pincéis sem o saber
irisando a foz das lágrimas
em mistérios de pastel
e formas lentas
de aguarela

ao tempo
que isso aconteceu
e o sol se entregou
diluindo ouro e fogo frio,
e o mar por dentro
pressentiu
a flor das tuas asas
ascendendo

há quanto tempo, meu amor,
mudei a cor de seda da saudade -
de azul, para matizes de aura mística,
miscível anil de alma impura,
por celeste filtro dispersada
em tons de infância
e algodão-doce

ao tempo que eu teço os teus vestidos
dessas cores tão delicadas!

e é sempre assim que eu penso o Céu
fascinada
(porque sei que ele te guarda)
e te protejo a eternidade
nesse espanto!

ao tempo que as nuvens com que brincas
se iluminam dos meus olhos de mãe doce

ao arrebol
quase noite
minha vida
quase filha
a adormecer.



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