
O páreo inclemente dos cingéis amaldiçoados
Data 16/04/2016 18:52:03 | Tópico: Poemas -> Sombrios
|
Sob o clarão da lua banhando as solitárias estradas, estremece o chão sob o bater das patas tão afiadas, desde longe o estrépito das assombrosas carreatas, adejam as crinas sedosas em dardejantes cascatas. Tão desabalado páreo não conhece sequer obstáculo, são elas as parelhas satânicas dantesco espetáculo.
O ponteiro é um alazão vistoso ajaezado com primor, no peito não há coração apesar da galhardia exterior. Diante da inflamada tropilha maldita assume o galope, sustenta ele a estrela de Lúcifer que carrega no tope; tomadas aos alvos dentes as rédeas então são ociosas, toda a fúria repercute ao longo das bocas espumosas.
Ao lado corre uma égua baia, das ventas o fogo brota, com a dignidade de mil imperadores no porte trota, uma legião de desalentados carrega por onde passar, a falta da coragem semeia, leva ao desanimo sem par; torpe veneno do maligno injeta nas almas aziaga poção, tal porte esplêndido engoda, o nome dela é Decepção.
Força insana, vontade obstinada na aferrada corrida, lendário tropel desconhece fronteira no vento à brida; não há mais sonhos a não ser cair no abismo sem fundo, espalhando os desígnios de Satã por todo este mundo, prosseguem os diabólicos cingéis no fatídico trabalho, onde pisam não cresce a relva, nem por ali há orvalho.
O segundo cavalo é o tordilho favorito de Satã, o Rei, sutil leva os dominados pelos desatinos diante da grei, néscios que deixam que invada o pensamento negativo, crendo tolos que de nada valerão luta e esforço reativo; devora os que têm na vida contradição e malquerença, retesos músculos nervosos e o nome dele é Descrença.
Cortando velozes o espaço escuro pela estrada de chão, ouve-se o tropel das parelhas de Lúcifer na imensidão; vêm num galope vertiginoso, crinas derrubadas ao vento, ensurdecedor o bater de cascos no chão rouba o alento. A égua zaina de focinho úmido, a cauda como cometa, assola os que não entendem desígnios da trupe seleta.
Galopa tanta maldade que homem algum pode domar, marca firme deixando no caminho qualquer que tomar; ela traz o legado vil das maldições nas horas incertas, agressiva cabeça e patas mantendo as trilhas abertas, furtando eternamente das almas o almejado galardão, mais resplandecente que ouro, o nome dela é Rebelião.
Rompendo tais empecilhos que possam impedir o avanço, cem mil chicotes de luzes negras acompanham o balanço, tudo se cala e se afasta diante desse fragoroso galopar. O cortejo leva as almas perdidas que não podem voltar, vendo, pensarão que estão em fuga, mas ledo é o engano, a nenhum da parelha pode dominar o frágil ser humano.
Ruidoso, rompendo o espaço avança firme o ponteiro, assolando todas as presas fáceis do ardil traiçoeiro; perfila todos os que andam desorientado por aflições, deixando de lado totalmente esperanças de remissões. Leva a confiança que algo será resolvido com esmero, é talismã pravo de Lúcifer e o nome dele é Desespero.
Todas as noites as parelhas combatem as hostes da luz, reflexos da lustrosa pelagem contra o horizonte reluz. os cavalos malditos, crias que Satã com carinho conduz.
|
|