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O páreo inclemente dos cingéis amaldiçoados

 



Sob o clarão da lua banhando as solitárias estradas,
estremece o chão sob o bater das patas tão afiadas,
desde longe o estrépito das assombrosas carreatas,
adejam as crinas sedosas em dardejantes cascatas.
Tão desabalado páreo não conhece sequer obstáculo,
são elas as parelhas satânicas dantesco espetáculo.

O ponteiro é um alazão vistoso ajaezado com primor,
no peito não há coração apesar da galhardia exterior.
Diante da inflamada tropilha maldita assume o galope,
sustenta ele a estrela de Lúcifer que carrega no tope;
tomadas aos alvos dentes as rédeas então são ociosas,
toda a fúria repercute ao longo das bocas espumosas.

Ao lado corre uma égua baia, das ventas o fogo brota,
com a dignidade de mil imperadores no porte trota,
uma legião de desalentados carrega por onde passar,
a falta da coragem semeia, leva ao desanimo sem par;
torpe veneno do maligno injeta nas almas aziaga poção,
tal porte esplêndido engoda, o nome dela é Decepção.

Força insana, vontade obstinada na aferrada corrida,
lendário tropel desconhece fronteira no vento à brida;
não há mais sonhos a não ser cair no abismo sem fundo,
espalhando os desígnios de Satã por todo este mundo,
prosseguem os diabólicos cingéis no fatídico trabalho,
onde pisam não cresce a relva, nem por ali há orvalho.

O segundo cavalo é o tordilho favorito de Satã, o Rei,
sutil leva os dominados pelos desatinos diante da grei,
néscios que deixam que invada o pensamento negativo,
crendo tolos que de nada valerão luta e esforço reativo;
devora os que têm na vida contradição e malquerença,
retesos músculos nervosos e o nome dele é Descrença.

Cortando velozes o espaço escuro pela estrada de chão,
ouve-se o tropel das parelhas de Lúcifer na imensidão;
vêm num galope vertiginoso, crinas derrubadas ao vento,
ensurdecedor o bater de cascos no chão rouba o alento.
A égua zaina de focinho úmido, a cauda como cometa,
assola os que não entendem desígnios da trupe seleta.

Galopa tanta maldade que homem algum pode domar,
marca firme deixando no caminho qualquer que tomar;
ela traz o legado vil das maldições nas horas incertas,
agressiva cabeça e patas mantendo as trilhas abertas,
furtando eternamente das almas o almejado galardão,
mais resplandecente que ouro, o nome dela é Rebelião.

Rompendo tais empecilhos que possam impedir o avanço,
cem mil chicotes de luzes negras acompanham o balanço,
tudo se cala e se afasta diante desse fragoroso galopar.
O cortejo leva as almas perdidas que não podem voltar,
vendo, pensarão que estão em fuga, mas ledo é o engano,
a nenhum da parelha pode dominar o frágil ser humano.

Ruidoso, rompendo o espaço avança firme o ponteiro,
assolando todas as presas fáceis do ardil traiçoeiro;
perfila todos os que andam desorientado por aflições,
deixando de lado totalmente esperanças de remissões.
Leva a confiança que algo será resolvido com esmero,
é talismã pravo de Lúcifer e o nome dele é Desespero.

Todas as noites as parelhas combatem as hostes da luz,
reflexos da lustrosa pelagem contra o horizonte reluz.
os cavalos malditos, crias que Satã com carinho conduz.


 
Autor
ArysGaiovani
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/04/2016 15:10  Atualizado: 17/04/2016 15:10
 Re: O páreo inclemente dos cingéis amaldiçoados
Muito bom o estilo e o poema!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/04/2016 09:07  Atualizado: 18/04/2016 09:07
 Re: O páreo inclemente dos cingéis amaldiçoados
brutal

Abraço

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/07/2017 16:35  Atualizado: 08/07/2017 16:35
 Re: O páreo inclemente dos cingéis amaldiçoados
então este também era o Luiz Morais? Um homem de muitas palavras e muitas máscaras...

como Pessoa, parece ter deixado o melhor de sua produção para seus clones...