Hoje, como ontem ...

Data 27/02/2008 22:23:06 | Tópico: Poemas -> Amor

Hoje, como ontem,
como num futuro que pressinto de nós equidistante,
trilho desvelada a rota,
na distância da chuva desprevenida
que me aparta, do epicentro de mim, à nascente da tua vida.
Hoje como ontem
sou, de um mar encapelado, a vaga bolinada e penetrante
que desamarra os nós,
desfralda as velas,
confunde os mastros num silêncio advertido de estrelas mareadas.
Sou de ti a guia, a luz, a audácia, o espanto,
que te conduz a ti mesmo,
o desassossego da carne e o roteiro da tua mais profunda verdade.
[Serei, porventura, saudade…
Saudade que te espreita na ternura do fim da tarde,
no silêncio contraposto
ao bem-me-quer ocultado d’ansiedade].
Hoje, como ontem,
somos o fogo-fátuo desposado, a chama que nos acalma
na pele despida, o afago incontrolado de tão ambicionado,
a boca amancebada em beijo acreditado.
Hoje, meu amado, somos a avenida reflorida de lilases
que nos aguarda no abraço apalavrado
de uma eternidade inteira.

[E conquanto,
és o frio desmedido e triturante
que me desola a alma palmilhada na noite de pássaro vadio,
o vazio perpétuo no meu leito,
a dor maior que m’enrodilha e m’enroupa o peito
se não mais és do que brasido triste do meu aguilhoado esplendor].

Hoje, nesta tristeza,
solto-me no mutismo audível do teu grito,
solto-me livre e presa em ti para além do Infinito.



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