Das coisas imprevisíveis #.#.#

Data 03/07/2016 23:10:25 | Tópico: Poemas

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Das coisas incompreensíveis
(Uma fenomenologia da estupidez)





Se não compreendemos a nós mesmos,
Como poderíamos compreender as coisas do mundo?
Filosofias são expostas como um fêmur quebrado,
Os mais belos poemas extraídos de profundezas insondáveis,
Como compreendê-los sem abraçar a insanidade,
Se ainda engatinhamos no brilho opaco de sentimentos tão vis?

Amar?
Mal cuidamos dos nossos filhos,
E o vizinho, com os seus, fazem parte de outra tribo.
Amar? Não me faça rir!

E se alguém neste mundo, de fato, ama,
Não tenho a menor dúvida, deve estar em maus lençóis.
Deve estar, neste exato momento, chorando,
Talvez morrendo de tristeza e solidão.

Mas deixemos de lado essas especulações vazias
E tão cheias de impossibilidades.
Admitamos nossa incompetência evolutiva,
Mudemos nossa dieta de enlatados vencidos e pútridos.

Afinal, quem irá compreender se digo que este mundo
Vive no passado?
Não me peçam explicações sobre essa fratura exposta,
Aquele fêmur quebrado, citado logo acima,
No topo da minha ignorância.

Só sei que é assim, porque é extremamente doloroso
E a dor tem essa peculiaridade semiótica, doer.
É um tipo de consultoria, as vezes cara,
A nos dizer que algo está desajustado, perto de quebrar
E, nos humilha até à calcificação dos ossos, não antes disso.

Filosofias, muletas, dores ingentes, incompreensões
E este poema, como todos os outros ou,
Em sua esmagadora maioria, ficará na estante do mistério.
Entre outras coisas, por que o compus?

Mas, cúmulo do cúmulo do constrangimento,
Todos que passarem os olhos por esse hieróglifo poema,
Irão dizer, cheios de uma certeza estúpida:
¬- Compreendo suas palavras, Milton!...

E depois de ouvi-las, uma esperança, também estúpida
E também triste, irá responder:
- Será?

Essa carência de nós mesmos, nos fazem assim, eminentes idiotas.






Milton Filho... 01.07.16







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