O vento sibila

Data 07/07/2016 13:53:02 | Tópico: Textos -> Outros

O vento sibila
Estou a ouvir o vento sibilando num prenúncio de grande tempestade, trovoada, lágrimas em chuva que nos faz doer o coração num arrepio incontrolado, frio. Chego à janela traço os braços aperto-os contra o meu corpo como me saberia bem um abraço acolhedor, quentinho e meigo. Estou só, sinto a tua falta, as gotas ácidas dançando nos meus olhos embaciados, encosto-lhes os dedos como se isso pudesse barrar o caudal que vai correr solto como se quisesse ou pudesse também reter a chuva que cai brava ao encontro dos vidros com um ruído dorido e magoado daquela força impelida pelo vento que está gritando aos meus ouvidos a saudade. Sigo as nuvens cheias, impetuosas rolando pelo céu
cinzento, escuro e esfarrapado onde se vão esgotando e esbranquiçando as nuvens deixando-se atravessar pelos raios de luz. Os trovões afastam-se e ouve-se um troar longínquo que me deixa escapar um suspiro de alívio ainda um pouco enrugado, mas que dá para augurar um rápido amainar deste temporal repentino. A Primavera vai em meia estação o que deve ter deixado muita gente desconsolada, pois já as praias foram visitadas por muitos banhistas, o sol já tinha aparecido com fulgor e os corpos respiravam livremente mas foi só um susto! A natureza é assim subtil, marota, daí a pouco vem a bonança sempre atenta, temperadora no tempo e nos corações. Tudo está a serenar agora, uma brisa fresca vai secando os olhos, vidros e as folhas das árvores brilhantes limpas do pó, tão verdes, cheira a terra molhada, que adoro aspirar e que veio até mim com o abrir da vidraça, que sensação boa! A lua está a desenhar-se no meio das estrelas já brilhantes. O céu limpou e o azul parece ainda mais belo, atractivo, sedutor e uma oração sai dos meus lábios trementes e à surdina estou a dizer-te adeus.



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