A carta
Data 10/07/2016 09:32:29 | Tópico: Poemas
| E eu corria por dentro de nós, menina-flor, lembras-te, minha mãe, os olhos barcos de espanto, a fugirem com o vento.
Pronunciava palavras interrompidas,
[ em que o céu era todo meu ]
quando entre os teus olhos e a minha voz, caía a linguagem impenetrável do silêncio.
Sei que te doía no corpo o exílio dos ramos, extinguia-se a teus pés o tardio clamor das árvores.
Por isso, decompus palavras em silêncios e água quando nas minhas mãos plantei um punhado de terra e me ensinei a respiração das flores.
E no céu que era só meu, menina-flor, crescia uma subtil primavera de luz, albergue de eternidades e dos voos inocentes dos olhos preparados para nascer. E havia as tardes de pássaros e as sílabas abertas e errantes a ousar no delírio dos lábios.
Mas só eu, menina-flor, colhia flores no meu céu.
Era denso o mundo, e foi estreito o tempo, minha mãe.
E eu perdi-me de ti e de mim me perdi, menina-flor,
tanto, tanto,
minha mãe.
maria
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