a noite

Data 01/09/2016 21:32:06 | Tópico: Poemas





no labirinto da noite que desce
[não importa a fase da lua]
o vómito da minha voz salobra
galga a boca bêbeda de vicio e medo
no silêncio apodrecido do fundo,
o tormento da consciência

fico de mãos aplainadas ao estofo de linho
[puído pelas lastimas da noite]
ouço [não vejo] os dentes e os ossos
a crescerem da noite
na noite
e os lábios
que hão-de emudecer, respiram
entre as molduras da parede
indiferentes à insone rotação.

em gesto exausto, os dedos torcidos
amparam a bagana do cigarro
um mortiço inferno em cinza
polvilha as folhas do livro
[tombado no colo]
em rima com o pó
dos olhos baços sem virtude

olhos mapeados de canais
que regam a pele, ladeada de têmporas adentradas
com mosto
que sulca os fundos fardos
do tempo que se põe a passar.

o silêncio
como bago de uva em prensa
gota a gota
escorre num ar atro
com a lua naufragada no breu, infalível
à espreita

da noite
vêm as palavras vernáculas
para o deus prestável,
cantos que se desfazem
na garganta da noite
na ressaca, no bafo a medo
nas veias abertas

na noite, os alicerces da noite
o tecto, a luz, a ficção
defuntos
a agonia, a solidão
o vazio, o temor
grilhetas
ferragens em vigilia
presságio de uma despedida?
uma mordaça que bebe o fôlego,
bebe-me a sofreguidão.

será o fim?
ou será apenas a noite?







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