Árvore

Data 05/03/2008 01:30:20 | Tópico: Textos

Não sou homem, sou Arvore. Abstenho-me desse conceito môno-semântico. Ser homem implica em ser o que não se é, e sou o que sou.

Quando um ser se nomeia homem constrói, em si, conceitos incorruptíveis, absolutamente sólidos. Não me sinto no direito de não mudar. Minhas angustias forçam-me as mudanças de "espírito".

Tentativa vã a de ser uno.

Quem de fato é homem? Que absurdo é esse? Quem esculpiu tamanha utopia? Meu pênis não me responde, minhas mulheres nunca tentaram, meu pai, esse sim foi homem, num mundo em que se pôde imaginar concreto andando.

Essa necessidade de se distinguir?

Um homem para criar o universo, para medir todas as coisas? Um homem para indagar sobre si, sobre o sentido de pronunciar-se, concluir-se, conceituar-se?

Eu sou uma Árvore, homens não abraçam e respiram o mundo. Homens dormem e sonham e amam e choram. Sou Árvore porque sou, escolhi ser. Imponente pelo que sou não pelo que faço. Sou frondosa e alta e quase perene e verde e só numa cidade grande.



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