Devaneio

Data 05/09/2016 16:58:58 | Tópico: Crónicas

Pensar-te é assim a modos que um dia de calor, com o suor a escorrer, do alto da testa para o rosto recém-barbeado, sentir o sal do suor a arder no rosto, nas feridas invisíveis que a lâmina insensível produziu.

Pensar-te é sentir a a secura no céu-da-boca, a língua como que engrossa entumecida criando o sufoco das ondas de calor que vejo ao fundo da rua de asfalto áspero como as palavras que não me murmuras, numa aspereza de ausência.

Pensar te é sentir a pressa no ventre, um calor do raio, prenhe de ausência poética com sintomas de pancreatite, fígado em vinha de alhos abafado num tinto bebido de véspera e que regurgito na tentativa de o provar de novo.

Não te pensei ontem como te penso hoje, penso-te hoje em catadupa de suores, maré cheia do meu contentamento.

Amanhã não sei como te pensarei, vou te pingar eu nas costas o meu suor pungente de sal em flor, enquanto me agarro às tuas ancas despidas que despudorada me ofereces como quilha de barca que se faz ao mar.



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