Crónicas : 

Devaneio

 
Pensar-te é assim a modos que um dia de calor, com o suor a escorrer, do alto da testa para o rosto recém-barbeado, sentir o sal do suor a arder no rosto, nas feridas invisíveis que a lâmina insensível produziu.

Pensar-te é sentir a a secura no céu-da-boca, a língua como que engrossa entumecida criando o sufoco das ondas de calor que vejo ao fundo da rua de asfalto áspero como as palavras que não me murmuras, numa aspereza de ausência.

Pensar te é sentir a pressa no ventre, um calor do raio, prenhe de ausência poética com sintomas de pancreatite, fígado em vinha de alhos abafado num tinto bebido de véspera e que regurgito na tentativa de o provar de novo.

Não te pensei ontem como te penso hoje, penso-te hoje em catadupa de suores, maré cheia do meu contentamento.

Amanhã não sei como te pensarei, vou te pingar eu nas costas o meu suor pungente de sal em flor, enquanto me agarro às tuas ancas despidas que despudorada me ofereces como quilha de barca que se faz ao mar.

 
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jaber
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 05/09/2016 17:21  Atualizado: 05/09/2016 17:21
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: Devaneio
Gosto.
Gosto muito duma linguagem que já conheço, como a prosa se encadeia.
E do devaneio sobretudo.

Muito bom reler-te!

Bora lá!

Abraço

Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 05/09/2016 17:37  Atualizado: 05/09/2016 17:37
Usuário desde: 07/08/2009
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 Re: Devaneio
Também gostei muito do texto proposto, do conteúdo e da linguagem genuína que fazia falta por estas paragens. Um forte abraços.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/09/2016 16:11  Atualizado: 06/09/2016 16:11
 Re: Devaneio
Gostei do seu texto.

Parabéns.

Um abraço,


Anggela