O cachorro (José Carlos Brandão)

Data 11/02/2017 13:19:39 | Tópico: Poemas -> Dedicatória


O cachorro me olhou com o silêncio
lacrimejante das janelas-enigma,
sempre fechadas, sem palavras, sangue
e sal diluidor, e latiu forte

como a morte, como árvore de espantos.
O cachorro rompeu o seu silêncio
de pedra exausta: precisava a dor
dizer ao mundo. O sangue na terra

clamava aos céus, o breve fim, a angústia
milenar, consentida, mas angústia.
O cachorro floriu diante do mar,

em êxtase com a água, a eternidade
nos olhos mansos, vendo o tempo frágil
desfazer-se na fria areia efêmera.

José Carlos Brandão, poeta.

Imagem: Nosso Husky siberiano, o "snoopy" com a vovó Eutália.



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