ALDEIA

Data 25/05/2017 18:48:29 | Tópico: Poemas

ALDEIA
Tenho o Ocaso
Instalado no lugar do meu ventre
E um Caos
No lugar do coração
Enquanto um gato cor de mel
Me lambe as feridas de Maio em flor.

Tenho melros nos pés
E cerejas no revolver dos sentidos
Quando o trigo se agita
Como o pulsar do teu grito
Dentro em mim,
E o Caminho dos exílios se abrisse para nós
Para que as rosas finalmente cessassem o seu pranto…

Sinto escassas todas as pérolas
Em lábios suculentos de romãs.

Tenho o licor dos dias
Nos beirais das portas e o rosto da minha avó sorridente
No entardecer da espera,
Enquanto minha voz a chamava encalhada numa quimera,

E ela…
Ela sempre me respondia.

Sinto seus passos pelo chão do sobrado,
Suas mãos esguias moldando o queijo,
Como quem molda a poesia,
Suas preces pela alvorada.

Sinto silêncio.
Contemplo aquela última casa branca do povoado.

Tenho uma aldeia instalada
No lugar do coração,
É onde os pássaros liberam
Naufrágios da infância
Em meu repousar.
© Célia Moura – (a publicar) “Terra de Lavra"



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