Silenciosa

Data 03/06/2017 20:47:10 | Tópico: Poemas


Há um desalinho
enigmático na casa
- abandonada -
sem postigo na porta
e de tinta desgastada

só o batente ruidoso
acorda o demorado segredo
que ali existiu

o fino fio de amor
partiu-se
mesmo no centro
da sala

e gritou na sua voz
voraz
para o telhado oblíquo

- eco que a noite calou -

e as janelas, sem paz,
espreitaram o cheiro
da cal caída
e das escadas
penosas

- fugaz
porto de abrigo -

e a palavra “amor” embalou
um espelho imenso
e espesso de mudez
que olhou fixamente o quarto
onde faíscas efémeras
tomaram, outrora, palavras insanas
como tranquilizante
da insónia

- essa que a cama emana -

e mesmo a sombra
nas ombreiras salitrosas
esqueceu as teias
que as aranhas
- obreiras poderosas -
costuraram ao longo
dessa casa
silenciosa.





Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=324343