Aquarela

Data 30/08/2017 23:56:20 | Tópico: Poemas

Queda a noite feito um bêbado
O vento sacode folhas amarelas
No horizonte um ponto prateado
Uma moça repousada na janela.

Ainda não sabemos quem é ela,
Nem quem possui aquele coração.
Sabemos que ela era a mais bela
E a mais querida daquela região.

Poderíamos chamar-lhe Estela,
Laura, Isaura ou mais uma Maria.
Mas não faríamos isso à poesia.
Dizendo a verdade era... Aquarela.

Na puberdade corria pelos prados
Com rosas perfumando os cabelos
Que caíam pelas costas em novelos
Servindo de morada para os pássaros.

Sorria como mulher na sua inocência.
Transparecia a graça daquele sorriso
Marfim perolado banhado em essência
Herdada de ervas do antigo paraíso.

Dava vida aos olhos e a aquele vestido
Tecido com rendas, tergal e margaridas.
Onde os pés tocavam a relva agradecia
Verdejando e alegrando o dia azulino.

Resolveu se apaixonar o seu coração
Num dia distante, infeliz e aziago,
Fazendo em Aquarela tamanho estrago
Que hoje a vemos ali, frente ao portão.

Seus olhos, outrora os mais lindos,
Hoje tão profundos e preocupados,
Ficam a esperar que seu “namorado”
Cruze a curva daquele caminho.

Ficam horas e horas velando, coitada,
Tudo após uns olhares, numa festa,
Depois o mundo inteiro de promessa
Agora anos e anos e nada.

Seus cabelos agora estão grisalhos;
As margaridas murcharam em seu corpo;
Maltrapilha, mais parece um espantalho
Com as pálpebras e os lábios roxos.

A vida é mesmo uma grande piada
Sempre seremos infantes em ninhos
Nunca abandonamos nossa morada
Esperamos que o amor venha numa virada
De uma curva acentuada no caminho.


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