Água, quase nada

Data 14/01/2018 17:37:36 | Tópico: Poemas


Mergulhei fundo:
das águas de ninguém,
descobri que o que me pertence
é apenas aquela nuvem
-
aquela!
...onde prendo os olhos
com fiapos de azul insubmersível.

Quem me dera que as minhas mãos
segurassem também esse fio invisível
que não me assegura os sonhos...
mas que me liga ao céu!

Mas...

sou de ninguém,
como as águas
e nada é tão de mim
como as mágoas.

E os fios são de luz,
as nuvens, de sombra;
e os lugares que imagino
para além do espaço que o meu corpo ocupa,
são terra sem chuva,
pátria sem hino,
praia sem culpa.

Mergulho, outra vez:
a sombra de mim é tudo o que me pertence,
mesmo que ao calor do meu hálito
se condense
toda a água que me habita...


e se eleve
ao céu que me acredita.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=332721