 
  
    	Perséfone (Mar Becker) [homenagem ao Dia Internacional da Mulher)
    	Data 08/03/2018 08:47:21 | Tópico: Dia internacional da mulher
 
  |    penso na mulher que é inacessível como uma estrela de sal. um cálice, uma chaga em backing vocals no cair das horas. penso na mulher que pensa na palavra
  e a palavra se faz aos poucos nas bocas das demais mulheres. com a matéria das flores sonâmbulas e do marfim.
  II
  sonho ou assédio lunar,
  meninas que se desgarram de si mesmas,
  meninas que flutuam como abajures mortuários em torno das bonecas. depois se abaixam para beijá-las na testa e imantar seus corpinhos de pano com relâmpagos.
  *
  meninas que não falam, magras, inacessíveis,
  tantas meninas, e são altas, e cheiram a algodão e lágrimas.
  nos cabelos um nevoeiro de teias de aranha. na pele os sinais em sete eclipses: lua ilícita, lisérgica. a sombra no púbis, no ânus, nos covis das axilas. uma única e mesma noite atravessa os séculos pela boca das mães até a boca das meninas,
  e das meninas às bonecas,
  num processo difícil de perpetuação da fome.
  Mar Becker (Passo Fundo–RS) é poeta. Publicou a plaquete Perséfone pelo selo Poesia Viva, editado pelo Centro Cultural São Paulo, e colaborou em diversos sites e revistas eletrônicas de poesia, entre elas Zunái, Cronópios, Germina e Mallarmargens.
 
  |  
  |