Dia internacional da mulher : 

Perséfone (Mar Becker) [homenagem ao Dia Internacional da Mulher)

 
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penso na mulher que é inacessível como uma estrela de sal. um cálice, uma chaga em backing vocals no cair das horas. penso na mulher que pensa na palavra

e a palavra se faz aos poucos nas bocas das demais mulheres. com a matéria das flores sonâmbulas e do marfim.

II

sonho ou assédio
lunar,

meninas que se desgarram de si mesmas,

meninas que flutuam como abajures mortuários em torno das bonecas. depois se abaixam para beijá-las na testa e imantar seus corpinhos de pano com relâmpagos.

*

meninas que não falam, magras,
inacessíveis,

tantas meninas, e são altas, e cheiram a algodão e lágrimas.

nos cabelos um nevoeiro de teias de aranha. na pele os sinais em sete eclipses: lua ilícita, lisérgica. a sombra no púbis, no ânus, nos covis das axilas. uma única e mesma noite atravessa os séculos pela boca das mães até a boca das meninas,

e das meninas às bonecas,

num processo difícil de perpetuação
da fome.

Mar Becker (Passo Fundo–RS) é poeta. Publicou a plaquete Perséfone pelo selo Poesia Viva, editado pelo Centro Cultural São Paulo, e colaborou em diversos sites e revistas eletrônicas de poesia, entre elas Zunái, Cronópios, Germina e Mallarmargens.
 
Autor
AjAraujo
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