Rectas paralelas

Data 16/06/2018 09:00:54 | Tópico: Poemas

O cilício nunca entenderá a mão.

Conhecia bem as costas,
a pele magra,
a viscosidade do sangue escuro.

Tinha um certo dó da monja.
Figura alta, complexa, na pressa de absolvição.

Ainda assim, nos t(r)emores que tinha,
nunca ouvia um suspiro,
sequer.

Apenas o silvo.

Também o vento lhe cortava o descanso.
A culpa, que lhes atravessava,
era
matemáticas das dúvidas

[será que ainda adoro?
serei séria ou fingida?
a cambraia, que agora coloro,
é, em sangue, tingida!].

Arranhava da mente fraca o desconsolo
que fazia, do cilício, presente
e a si mesma
igual.

Fazia das fraquezas, força.
Um regalo para todo o credo.

Entre elemento de vício
e a devoção,
viviam o cilício
e a mão.


Reedição com pequenas alterações em 14\07\2023.



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