Poemas : 

Rectas paralelas

 
O cilício nunca entenderá a mão.

Conhecia bem as costas,
a pele magra,
a viscosidade do sangue escuro.

Tinha um certo dó da monja.
Figura alta, complexa, na pressa de absolvição.

Ainda assim, nos t(r)emores que tinha,
nunca ouvia um suspiro,
sequer.

Apenas o silvo.

Também o vento lhe cortava o descanso.
A culpa, que lhes atravessava,
era
matemáticas das dúvidas

[será que ainda adoro?
serei séria ou fingida?
a cambraia, que agora coloro,
é, em sangue, tingida!].

Arranhava da mente fraca o desconsolo
que fazia, do cilício, presente
e a si mesma
igual.

Fazia das fraquezas, força.
Um regalo para todo o credo.

Entre elemento de vício
e a devoção,
viviam o cilício
e a mão.



Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Por regra, não respondo.

Reedição com pequenas alterações em 14\07\2023.
 
Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 14/07/2023 08:42  Atualizado: 14/07/2023 08:42
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 Re: Rectas paralelas /R.Beça
olá Rogério

opus dei / viri opus

interessante paralelismo

atensiosamente
HC