
[A cura da espera]
Data 18/08/2018 01:04:52 | Tópico: Poemas
| Mais um dia e o inesperado aconteceu: a noite veio, pegou-se em mim. Faz tempo que eu caí nesta vala — sem razões à frente ou motores à popa, tanto faz se é dia, se é noite; na vala, toda espera é sem nexo.
Mas, indiferente aos arranjos de palavras — pois o mundo é, e palavras não são —, é noite, enfim... Enfim?! Não; enfim não, pois o enfim é um poste apagado na ansiosa, e agora ex-distante, extremidade de uma espera. E eu já disse: eu não espero mais!
Sob qualquer ângulo de visada, é a noite espalhada, coalhada no mundo... Torna-se impossível negar: é noite!
E dentro do meu armário absurdam-se os meus sapatos, as roupas antigas, as camisas e as cuecas brancas; os cintos pretos separados do marrons; as pastas de velhos documentos...
São evidências de que eu tinha o vício de esperar, e agora, curado, eu apenas vivo nessa vala do não; amanhã, eu não quero e não espero nada, ninguém... Nunca, nunca, eu pude fruir tanta liberdade! __________________ [Desterro, 10 de janeiro de 2015]
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