Poemas : 

[A cura da espera]

 
Mais um dia e o inesperado aconteceu:
a noite veio, pegou-se em mim.
Faz tempo que eu caí nesta vala —
sem razões à frente
ou motores à popa,
tanto faz se é dia, se é noite;
na vala, toda espera é sem nexo.

Mas, indiferente aos arranjos de palavras —
pois o mundo é, e palavras não são —,
é noite, enfim... Enfim?! Não; enfim não,
pois o enfim é um poste apagado na ansiosa,
e agora ex-distante, extremidade de uma espera.
E eu já disse: eu não espero mais!

Sob qualquer ângulo de visada,
é a noite espalhada, coalhada no mundo...
Torna-se impossível negar: é noite!

E dentro do meu armário absurdam-se
os meus sapatos, as roupas antigas,
as camisas e as cuecas brancas;
os cintos pretos separados do marrons;
as pastas de velhos documentos...

São evidências de que eu tinha o vício de esperar,
e agora, curado, eu apenas vivo nessa vala do não;
amanhã, eu não quero e não espero nada, ninguém...
Nunca, nunca, eu pude fruir tanta liberdade!
__________________
[Desterro, 10 de janeiro de 2015]

 
Autor
crstopa
Autor
 
Texto
Data
Leituras
388
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.