
COR DE PORCELANA
Data 29/11/2018 02:49:54 | Tópico: Poemas
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Início do fim.
O ruído d’água do chuveiro abafou o choro ao aspergir com fúria.
Logo o vapor embaçou o quadrilátero azulejado turvando o testemunho.
Só o poeta em sua alucinação, foi, e viu; quando o silêncio quis chorar aquele grito não dado.
Na borda côncava da louça, o aço brilhava desembainhado sobre a carta manchada de rubro selando o impávido ato.
Quem; agonizava sem arrependimentos, graças aos barbitúricos ingeridos.
O corpo jazia entregue numa nudez pálida, inerte, e um sorriso macabro.
Os braços, abertos, como se esperando o último abraço. Neles, pulsos já sem pulso; e deles, tênues filetes coagulados. Restos irrecuperáveis de vida. sem poesia.
Somente um quadro triste pincelado de morte prematura, havia...
Na tela; imagem na cor de porcelana; morta, submersa na seiva aquosa a esvair-se definitivamente no destampar do ralo.
Árido fim.
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