Sou O Que Sou

Data 12/03/2019 17:12:48 | Tópico: Poemas

Não tenho orgulho do que sou.
Tampouco tenho do que faço.
Eu curto Cubain e o rei do Soul.
Colho flores em montes de aço.

Sou silêncio, sou circunspecto.
Um misto de Machado e Meirelles
De Lygia Fagundes Telles
Com um pouco de Clarice Lispector.

Tenho casuarina, sobrado e preguiça.
Cultivo ervas que me curam os males.
Tenho livros antigos, poço, hortaliças,
Vídeos antigos sobre o príncipe de Gales...

Tenho choupana, adoro chalaça,
Mulheres da vida difícil e fácil.
Tomo garapa, rum e cachaça.
Fumo plantas alucinógenas asiáticas.

Tenho pouco de Deus e de Satã.
Sou uma mistura daquilo que planto.
Sou um pouco de demônio e de santo.
Um tanto de tarde e muito de manhã.

Respeito o trânsito e a macumba.
Misturo sushi com chá e chuchu.
Plagio epígrafes das catacumbas
Erigidas em homenagem à Belzebu.

Pratico natação, maratona e suruba.
Nas noites sem luas, ritual satânico.
Eu mato macacos no sítio de Ubatuba
Retiro mexilhões em cascos de tartarugas.

Sou assim, sou humano, ocidental.
Na parede trago quadros virados para baixo.
No fundo do sítio tem um bambuzal
Que é banhado pelas águas do riacho.

Meu calcanhar de Aquiles é aquilino.
Rogo a Xangô uma vida em Xangrilá.
Arranco pelas raízes os atobás.
Rego as rosas no terreno pequenino.

Não tente desbravar quem sou nos versos.
Vou muito além do que seus olhos possam ver.
Sou uma mistura de desapego e querer.
Somos poeiras advindas do... universo!










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