Não, não sei d’amar...

Data 06/04/2008 09:40:11 | Tópico: Poemas -> Amor

Tropeço em ti na vastidão da noite grande
daquela de que não sei o fim nem o começo.

Tropeço tíbia, desamparada e, sem que me alcance,
sem que de mim própria me saiba,
incauta,
insana,
deito doce, serena, a cabeça no Monte Sinai, teu peito.
Aceito assim, sem cautela, qual dádiva, a mão estendida
e nela sou pião de brega, pião de roda,
pião d’ousadia divina e consentida
néctar fremência, flor aberta em cauda boreal
erva rubra p’lo orvalho matinal recrudescida.

Em dualidades de sentidos, segredo búzios a teus ouvidos:
- Não, não sei d’amar
nem das voltas do mar, se mareante não fui em outra vida;
Não sei do Sol luminescente aprisionado no ventre da noite
nem sequer donde proveram águas de milenares fontes;
Não sei do algoz que me conduz ao cadafalso ao pranto,
nem sei quem me colocou torniquete no garrote
se das veias ainda brotam borbotões quentes de sangue;
Não leio a sina nem tão pouco prevejo a sorte;
Capitulo se não sei d’amar,
e, contudo, não afiguro sequer como se vive não se amando.

E, não sabendo destas nem das demais,
sei do desejo d’ombrear amplos horizontes,
de escalar escarpas, de tecer redes e pontes,
de beijar frugal a pele de tua boca
de t’arrancar afagos em júbilo de jograis…
e depois de exaustos os dois,
enxugar em gáudio teu sal no sal da minha pele
uma vez mais de novo e novamente
e amar-te assim, no amor, amando desmesurada (e)ternamente.



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