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Não, não sei d’amar...

 
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Tropeço em ti na vastidão da noite grande
daquela de que não sei o fim nem o começo.

Tropeço tíbia, desamparada e, sem que me alcance,
sem que de mim própria me saiba,
incauta,
insana,
deito doce, serena, a cabeça no Monte Sinai, teu peito.
Aceito assim, sem cautela, qual dádiva, a mão estendida
e nela sou pião de brega, pião de roda,
pião d’ousadia divina e consentida
néctar fremência, flor aberta em cauda boreal
erva rubra p’lo orvalho matinal recrudescida.

Em dualidades de sentidos, segredo búzios a teus ouvidos:
- Não, não sei d’amar
nem das voltas do mar, se mareante não fui em outra vida;
Não sei do Sol luminescente aprisionado no ventre da noite
nem sequer donde proveram águas de milenares fontes;
Não sei do algoz que me conduz ao cadafalso ao pranto,
nem sei quem me colocou torniquete no garrote
se das veias ainda brotam borbotões quentes de sangue;
Não leio a sina nem tão pouco prevejo a sorte;
Capitulo se não sei d’amar,
e, contudo, não afiguro sequer como se vive não se amando.

E, não sabendo destas nem das demais,
sei do desejo d’ombrear amplos horizontes,
de escalar escarpas, de tecer redes e pontes,
de beijar frugal a pele de tua boca
de t’arrancar afagos em júbilo de jograis…
e depois de exaustos os dois,
enxugar em gáudio teu sal no sal da minha pele
uma vez mais de novo e novamente
e amar-te assim, no amor, amando desmesurada (e)ternamente.


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Alberto da fonseca
Publicado: 06/04/2008 09:53  Atualizado: 06/04/2008 09:53
Membro de honra
Usuário desde: 01/12/2007
Localidade: Natural de Sacavém,residente em Les Vans sul da Ardéche França
Mensagens: 7066
 Re: Não, não sei d’amar...
Olá lá, olá lá, Mel!... mas que grande amor, intenso, sôfrego! Mas é asim mesmo quando se de verdade.
Lindissimo!!!!
bjs poetisa
A. da fonseca

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/04/2008 10:01  Atualizado: 06/04/2008 10:01
 Re: Não, não sei d’amar...
Ama-se sem saber porque se ama.Ama-se simplesmente.
Adorei o seu poema de amor.
Beijinhos poetisa.

Enviado por Tópico
Liliana Jardim
Publicado: 06/04/2008 11:10  Atualizado: 06/04/2008 11:10
Usuário desde: 08/10/2007
Localidade: Caniço-Madeira
Mensagens: 4412
 Re: Não, não sei d’amar...
Um soberbo, amiga

O amor é mesmo louco..

Beijinhos, poetisa

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/04/2008 13:25  Atualizado: 06/04/2008 13:25
 Re: Não, não sei d’amar...
A capacidade de ajuntar tantas imagens, tanta essência poética e o estar, com o amado em cenas muito pessoais é um grande trunfo de tua poesia, no qual se reflete nessa. Talvez, se deixasse a sintaxe escorrer menos travada, do qual as vezes arrevesado alguns pontos ficam, sem dúvida sua poesia em conteúdo imagístico dificilmente será superada pelos confrades que amigavelmente publicam por aqui. Minhas saudações, Godi.

Enviado por Tópico
juvepp
Publicado: 06/04/2008 14:26  Atualizado: 06/04/2008 14:26
Colaborador
Usuário desde: 13/04/2007
Localidade: Machico - Madeira
Mensagens: 547
 Re: Não, não sei d’amar...
Olá Mel,
Neste poema as dúvidas e as incertezas, reiteradas pela negativa, "não sei", coloca o sujeito poético numa defensiva e numa passividade de pouca ou nenhuma importância face às adversidades, posto que na segunda parte, este sujeito poético consegue reverter a situação e torna-se mais activo e como tal capaz de escaladas para atingir os seus objectivos, isto é "amar" o objecto poético de forma "desmesurad" e terna.
Rvela, como sempre, um grande trabalho da palavra por forma a surgir uma adejectivação rica e plurissignificativa.
Beijinhos.

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 06/04/2008 16:05  Atualizado: 06/04/2008 16:06
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3560
 Re: Não, não sei d’amar...
Ao ler-se este texto torna-se impossivel não voltar a ler e reler nas linhas e entrelinhas para que se possa sorver, o amor sob uma outra perspectiva.

Beijo*

Enviado por Tópico
Carlos Ricardo
Publicado: 06/04/2008 17:34  Atualizado: 06/04/2008 17:34
Colaborador
Usuário desde: 28/12/2007
Localidade: Penafiel
Mensagens: 1801
 Re: Não, não sei d’amar...
Mel,

nas tuas letras primorosas se apaziguam ânsias e se harmonizam opções que se pensam inconciliáveis. A confiança do amor é mesmo de quem ama. Quem ama não sabe d'amar e quem sabe d'amar não ama.
Um abraço.