Se de cada mesa farta…

Data 04/09/2019 12:38:07 | Tópico: Prosas Poéticas


Se de cada mesa farta,
Caíssem ínfimas migalhas de pão,
A fome adiaria sua proeza
Nas barrigas cochichadas,
Dos que nada têm, senão
O céu e a terra,
Que não lhes pertence.
Se de cada mesa farta,
Caíssem ínfimas migalhas de pão,
Haveria sorriso em todas as faces,
E calmariam barrigas de vento,
Que contam madrugadas de insónia
E pingos de lágrimas, à luz,
Dum amanhecer incerto.
Se os abastados
Abrissem um pouco seus corações,
E sentissem a força da fome,
Que um moribundo sente,
Ao ser-lhe negado a esmola,
Que um nené sente
Ao abocanhar peitos
Desérticos da mãe faminta,
Quiçá, o mundo e os sorrisos
Seriam pra todos.
Nené debilitado...
Sem poder desvendar
O que vai no olhar ausente da mãe,
Sem poder enxugar lágrimas
Que lambem face ressequida da mãe,
Sem poder deixar de tactear
Peitos desérticos da mãe faminta,
Chora, simplesmente chora...
Sua consolação depende de si
E de mim, agora, antes que seja
Tarde demais.

Adelino Gomes-nhaca



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