Prosaico

Data 14/09/2019 08:05:00 | Tópico: Poemas

Num campo de milho no Minho
pouco maior que um hectare,
em mangas de camisa
vive um espantalho.
Preso ao seu trabalho,
avisa,
sem hesitar,
o voar do estorninho.

O tom claro ao vento,
a posição do chapéu de palha,
a leve inclinação das espigas
traz, às arrecuas, o bando
que, voando,
começa em cantigas
e pelo campo se espalha
com a fome em talento.

Às aves que hesitam, com medo,
diz o espantalho contente:
nem sabem da vossa sorte
(entre outras, que se poisam nos braços)!
Pergunta-se a seara a espaços
se bico, se boca, é a morte
presente,
apenas ignoto, não há segredo.

Roda a terra em mais um Sol, rei
posto e nado;
e agosto parece enganado, treme…
De fio a pavio, o espantalho sem nome,
sem fome
ao leme
dum navio encalhado num prado,
respeita o seu fado, a sua lei…



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