"Quando ainda se ignora a morte", de J. Tolentino de Mendonça
Data 05/10/2019 10:34:48 | Tópico: Poemas
| Provavelmente hoje será o dia em que escutaremos mais vezes o nome de Tolentino de Mendonça. Provavelmente depois voltará à discrição mediática que os amantes da sua poesia preferem. As honras de cardeal dizem-me pouco, mas aproveito a ocasião para partilhar um dos textos de que mais gosto, de um dos seus primeiros livros, Longe não sabia (1997).
Quando ainda se ignora a morte
Se agitares tesouras numa fogueira não esqueças que me feres um avesso de lume é o meu único segredo no impreciso avanço das lâminas um anjo o descobriria
Tira a faca da gaveta mas não esqueças se a cravares na água como altas vagas o mar me sepultará dentro da casa abandonada
Não lamentes serem os versos saberes tão frágeis as flores mais belas são as que se colhem quando ainda se ignora a morte
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