
Decadência
Data 29/11/2019 00:41:43 | Tópico: Poemas -> Amor
|  Decadência
Chegamos ao meio — entre o branco e o preto. Houve infinitos amanheceres. Éramos um tubo de ensaio: eu e você permeávamos o tédio entre abril e maio.
Havia doçura, mas já não havia prazer. Éramos jovens, eu sabia, e a cada novo amanhecer faltava magia. Nessa loucura tensa, inexistia o meio-dia para mim ou para você.
Enganávamos o futuro, e o presente era só promessa. Neste trânsito, o tédio invadia nosso romance — conjuntura aflita, onde junho já estava fora de alcance.
Todas as palavras imagináveis foram ditas. O pó que sobre a mesa restava era de um infinito banal, e os espelhos refletiam a si mesmos em outros espelhos, demonstrando apenas a pálida intenção de um branco que desejava ser vermelho.
E assim os meios não significavam um fim, nem se concatenavam entre o querer e o sentir. Olhares vazios, olhos frios e sem vida; o sentir não era sentido, e o querer era apenas a negação do querido.
Por fim, junho resplandeceu. E em seu bojo, a solidão da alma vislumbrou a proximidade do inverno e um intenso azul no céu — e também um mar de águas frias, onde balançava, solitário, um pequeno barco de papel.
Alexandre Montalvan
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