Data 23/03/2020 17:47:44 | Tópico: Prosas Poéticas
Lisboa calou-se, Calou-se pra não mais ouvir O choro de quem parte Na boleia do vento, Vento ruim Vento vindo de longe, Com suas asas da morte. Lisboa calou-se, Calou-se e chora a ausência Dos passos na calçada, Passos preguiçosos Que subiam e desciam Suas efervescentes ruelas. Lisboa calou-se, O silêncio espreita Em cada esquina Despida dos passos apressados, Que não a deixavam dormir. Lisboa calou-se Já não se ouve risos e gargalhadas, Que a deixavam acordada, Já não se ouve o ronco dos carros, Que desafiavam madrugadas, Já não se ouve o tinir dos talheres Nas esplanadas adormecidas, Já não se ouve o fado, Que amansava manhãs E acordava madrugadas Nos becos de Lisboa que não dormia. Lisboa calou-se, Calou-se e chora em silêncio Por estar em quarentena, E não mais poder desfrutar Dos abraços dos turistas, Que alegravam suas praças Com seu português coxo. Lisboa calou-se… Calou-se e calaram-se os homens No seu ventre hospedeiro. Silêncio, só silêncio nas ruas, Que perderam um abraço No desabraço do corona.