de incertezas, para incertezas

Data 22/04/2020 18:08:25 | Tópico: Poemas


Dos teus olhos
correm charcos. Estão turvos
e com cisco.
Roubam a presença aos olhos.

Deles correm estranhas águas,
caladas e em mistério.
Vagueiam como calados de navio.
Sulcam as entranhas!
Vão errantes, no além do amanhã,
a esquecer o dia que passa.

São charcos que correm,
de incertezas,
para incertezas, em limos e em areias.
Turvos, os olhos,
sem porto para a atracar, esperam
a hora do fim, para alvorar.

Os olhos, não distinguem,
a tímida nostalgia do sulco azul.
Vivem entre medos e sombras.
Nem o voo de um buteo buteo*,
torna real o sonho.

Com ombros, em sombra,
e pés, em vão, exprimem-se
espectáculos de morgue.

Labaredas! Labaredas!...Labaredas.

Labaredas do ébrio papelão,
nos olhos desenham,
solidões domadas e casas feridas.

Por agora, no olhar, não há regaço de consolação.


* Buteo buteo, conhecido pelos nomes comuns de águia-de-asa-redonda, bútio-comum ou minhoto (nos Açores Buteo buteo rothschildi é conhecida por milhafre ou queimado).




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