Vampirismo
Data 11/05/2020 23:30:29 | Tópico: Poemas -> Góticos
| No princípio era o Verbo, e Este fez o princípio. Criou, do barro, o Homem e neste Se alegrou. No alto fez Seu descanso, habitando no Olimpo. Porém, insatisfeito, o Homem se recriou: Desbotou-se da argila erma da existência; Reduziu-se a um ímpio projeto de ausência. Pela menoridade, este se rebelou.
E na sua vontade em fazer-se Deus O proto-homem escalou, às garras, o Monte. Subordinado às ânsias de deuses ateus, O andrógino pôs Zeus co'a face em sua fronte. Ditou a aspiração - eis qual sua arbitragem: -Mortal! Você não é um Deus nesta paragem! O proto-homem caiu à desgraça do afronte.
E retalhado ao meio, entregue ao rés-do-chão, Viu-se, o Homem, mutilado em toda sua hombridade. Condenado por sua auto-valoração, Afogou-se em recalque, insolência e vaidade; Lúgubre catatônica esquizofrenia. A densidade existencial o agonia; Descobre-se como o Homem pela Metade.
Apartado do espírito, o Homem angustia, Estertorando a carne em corpo desalmado E carente em pecado; o Homem não se sentia: Pelo materialismo cego é arrastado. Vem com a modernidade, num bojo imundo, A sentença final, coroando o homúnculo: Positivista ciência o reparte em dois lados.
Agora, um quarto do homem original, Ele se entrega ao Mundo, com paixão e zelo. Passando de político a mero animal, Dá-se todo aos vampiros - saciam o apelo. Homens vampirizados, homens quartejados: Ser humano, inumano, imundo, desalmado... E todo homem-vampiro não se vê no espelho.
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