O abade
Data 25/06/2020 18:18:34 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Quando o Santo chamou-me prum jantar, Preparei o banquete mais bonito. Pus na mesa saladas a contar, Vários tipos de carne e um manjar De sobremesa; tudo pro Bendito.
Conforme ia chegando a hora marcada Três figuras estranhas surgiram. Foi delas a primeira a mais levada, Uma criança de rua, abandonada, Das que pedem esmola e mendigam.
Bateu-me à porta pedindo comida De olhar mareado e a barriga roncando. — Hoje não posso, tenho uma visita Importante, que me é muito querida! Dei-lhe adeus com a porta se fechando.
Pouco tempo passou e ouvi batendo Na minha porta já algum outro alguém. Ao abrir era um mendigo gemendo De fome e frio; com os dentes rangendo Disse:— Não há comida pra ninguém!
Fecho a porta e ela bate a terça vez. Muito irritado eu grito:— Já falei Que aqui não tem comida! Tu não vês Que me perturba? Sê mais cortês! A porta então parou e eu me calei.
Ceiei aquele banquete sozinho Pois não veio o Santo me visitar; Sozinho servi-me de pão e vinho. Tomei a decisão de ir ao caminho Do Santo noutro dia e perguntar.
Encontrando-o perguntei:— Santidade, Por que não veio ontem à minha porta? Disse ele:— Mas fui três vezes, abade. Duas vezes rejeitou-me piedade E na terceira nem abriu-me a porta.
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