Janelas

Data 30/11/2020 22:11:42 | Tópico: Poemas

O falso brilho das promessas é o perfeito retrato do que é ilusão
Nossos sentidos se lançam a acreditar que tudo será como dito
Os corredores e cômodos silenciosos e vazios são a prova disso
A janela aberta da casa, ao vento, imita asas, mas não há o voar
E o que restou para sonhar do desejo de viver novos horizontes
É cais varrido pelo aferro das águas de tantas e tantas partidas

O sol inclemente cresta o chão à margem do rio de fato distante
Mas não há o porto a ancorar nestes tempos tão ermos e áridos
Olhar afora dos batentes da janela pode trazer uma ideia fugaz
Um pensamento, por certo irreal, de que haver-se-ia a liberdade
De se lançar noutro voo às cegas e afastar o que não contenta
Na quimera de que o horizonte tão ansiado poderia ser logo ali

Mas é tudo tão remoto e já não se sente a textura das estações
E não há o conhecimento que te dê à mente os milhões de asas
Que são hábeis a reafirmar que o amor existe e é quanto basta
Nem a esperança que insiste ficar pela crença que deve resistir
Tal esperança nada mais é além de um tecido puído pelo tempo
Estendido no caminho de tanto tropeço nas dores da revelação

A vida cobre-se de equações mal resolvidas, de flores efêmeras
A vida é uma primavera de pétalas caídas, de adeuses precoces
Por isso sigo em meu desterro, sem sorrisos, atrás desta muralha
Mas aguardo o milagre que um som de violino trazido pelo vento
dissolva o silêncio e permita que a minha mão toque a tua e que
À sombra dos girassóis nos mostre o caminho de volta ao amanhã



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